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Ônibus 174


Por Cezar de Lima e Felipe Faoro Bertoni


O CASO

No dia 12 de junho de 2000, diversos cidadãos brasileiros estavam cumprindo parte de suas rotinas diárias ao embarcar no ônibus nº 174, no Rio de Janeiro. O que essas pessoas não esperavam era que, por volta das 14h20min, um pesadelo teria início. Esse foi o horário em que Sandro Barbosa do Nascimento ingressou no veículo, armado e transtornado, dando início ao sequestro que tomou a atenção e invadiu os noticiários do dia.

A partir desse momento o Brasil parou. Não havia uma emissora de televisão que não acompanhasse o andamento do sequestro, o qual já indicava o prelúdio de um desfecho trágico.

Sandro deu início ao sequestro, hostilizando os passageiros, mas sem fazer com que o ônibus parasse, o que veio a acontecer cerca de vinte minutos após a abordagem inicial, em razão de uma vítima ter conseguido avisar a polícia do crime que estava em curso. Com isso, o veículo teve o trânsito interrompido pela polícia e o terror se intensificou.

No meio da confusão havida, o condutor do ônibus, assim como o cobrador lograram êxito em se evadir do local pulando as janelas e correndo pela porta traseira. Nesse momento, Sandro, com a finalidade de intimidar os presentes e a multidão que por ali se aglomerava realizou um disparo contra o vidro dianteiro do ônibus, aumentando o pânico instaurado.

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Um dos policiais entrega um telefone celular para o sequestrador

O único refém homem foi liberado por Sandro, que permaneceu com cerca de dez reféns, todas do sexo feminino.

Seguiram-se horas de desespero. O sequestrador apontava ostensivamente a arma contra a cabeça das vítimas, dizendo que iria matá-las. Em alguns momentos o sequestrador acabou até mesmo simulando a eliminação de uma refém, fingindo ter puxado o gatilho contra sua cabeça e ordenando que não se levantasse do chão, como forma de intimidar a polícia e a sociedade em geral.

DESFECHO

Aproximadamente quatro horas após o início do inferno, por volta das 18h50min, Sandro resolveu descer do ônibus, levando consigo a refém Geisa Firmo Gonçalves, quem lhe servia de escudo humano. Ao avistar possível oportunidade de eliminar o criminoso, um policial do BOPE efetuou um disparo que, por erro de pontaria, atingiu a refém e não o sequestrador. Diante do movimento desastrado da polícia, Sandro teve tempo de reagir e atingir Geisa com três disparos nas costas.

A refém faleceu, mas Sandro não foi alvejado. Ainda estava vivo, sorte que não lhe acompanhou na trajetória até a Delegacia de Polícia.

Com efeito, após os disparos, Sandro foi imobilizado e houve tentativa de linchamento, frustrada pela polícia que o colocou no porta-malas de uma viatura.

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Sandro Barbosa do Nascimento é conduzido até a Delegacia

No transporte até a Delegacia, Sandro veio a falecer por asfixia. Os policiais que realizaram o transporte de Sandro responderam por seu homicídio, mas foram considerados inocentes da acusação.

QUEM ERA SANDRO BARBOSA DO NASCIMENTO

Uma das frases ditas pelo autor do sequestro do ônibus 174 apresenta um traço de quem era Sandro do Nascimento.

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“Aí, parceiro: pode me filmar legal. Se liga só: eu estava na Candelária, o bagulho é sério, mataram os irmãozinhos na maior ‘judaria’. Então eu não tenho mais nada a perder mais, não, irmão!”, dizia Sandro Barbosa do Nascimento.

A frase em destaque aponta que o autor foi vítima, em 1993, de uma das chacinas mais cruéis que aconteceu no Brasil. Sandro estava entre os jovens sem teto que sobreviveram à chacina realizada por policiais militares. Nessa chacina, oito jovens foram assassinados.

UMA OPERAÇÃO POLICIAL DESASTROSA

Apesar de toda violência cometida por Sandro durante o sequestro, a tragédia do ônibus 174 também ficou marcada como uma operação policial errônea, sendo exemplo do que não se deve fazer em casos semelhantes.

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A atuação policial durante o sequestro foi alvo de críticas à época

Conforme já pontuado, o tráfico desfecho causado pelo evento teve, em grande parte, contribuição de uma atuação desastrada da polícia que, ao tentar neutralizar o bandido, acabou por atingir o queixo da vítima que era utilizada como escudo. Com isso, o sequestrador, armado, disparou três vezes nas costas da refém Geisa, jovem de 21 anos que estava com dois meses de gravidez.

Isso gerou, pelas próprias autoridades de segurança da época, criticas no que tange a operação de liberação dos reféns.

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_Colunistas-FelipeFaoro

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