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10 orientações práticas para usar a Literatura em seu TCC ou Monografia

10 orientações práticas para usar a Literatura em seu TCC ou Monografia

A arte imita a vida ou a vida imita a arte? Seja qual for a sua resposta, tenha certeza que já escolheu um lado da questão e ponderou, o mínimo que seja, sobre a pergunta.

A formação da resposta passou pela consideração empírica e conceitual que o indivíduo faz de suas experiências e a forma qual elabora suas opiniões a respeito de inúmeros assuntos.

Nesse ambiente de criação e interação com os mecanismos ao redor, inclui-se, todavia, as diversas convicções que se unem em conjunto e constituem nossa ideologia.

Nesse diálogo entre as paixões ideológicas/ciência somente se pode aplicar a ideia de Popper e Bachelard que consiste no pesquisador parte desse mundo e dessa forma, formado e construído em meio ao objeto de estudo, seja ele qual for.

Entretanto, validar as teorias e análises realizadas por meio da comprovação realizada por outros cientistas, que muitas vezes tornaram possíveis novas condutas e falseamentos naquilo que se conhece por ciência é de grande valia.

O trabalho de conclusão do curso de direito envolve diversas possibilidades, diversos campos de estudo e inúmeros verberadores que podem afirmar a sua ponderação nas linhas do trabalho.

Como se trata de matéria social, amplamente interligada a todos os sujeitos, o direito traz a possibilidade de estudos antropológicos, sociológicos, filosóficos, históricos e que podem ser validados através da literatura.

A boa literatura é escrita e fundada nos conceitos, costumes e tradições, bem como nas manias sociais e na arte crítica. Para isso, o autor baliza seus conceitos nas matrizes constitutivas da ideologia de um determinado grupo de pessoas que formam uma sociedade, geralmente.

E é exatamente isso que o direito significa. As seguintes orientações podem fazer a diferença:

1. Encontre o seu foco

Seja seu foco em qualquer ramo do direito que verse seu artigo ou monografia (há diferença entre as duas modalidades) deve estar interligado severamente a uma área do direito.

De nada adianta um artigo extremamente filosófico porem muito bem escrito que não verse sobre o direito, ou da mesma forma, sociológico ou antropológico. Não significa que não deva caminhar por uma interdisciplinaridade, o que é essencial.

Portanto, a escolha de uma grande área do direito ou de um assunto no interior dos estudos realizados durante os anos de graduação deve ser realizada pouco a pouco, durante a jornada de estudos.

Encontrar o foco como primeiro passo irá transporta-lo (a) a uma área do conhecimento que pode ter sido citada por um grande escritor. Um exemplo disso; se sua área é o processo penal, Franz Kafka seria uma excelente pedida. O que importa, antes de tudo, é achar o seu foco.

2. Escolha os autores com parcimônia

A escolha dos autores é muito importante na hora da Monografia. Você pode trabalhar com diversos autores desde que conheça as obras quais está trazendo para sua pesquisa. Todavia, o conselho é que estabeleça desde o início um autor reconhecido e que verse sobre o assunto com maestria e exemplos prováveis.

A probabilidade de um acontecimento no mundo real, se é que já não aconteceu, é o que destaca o pensamento para o mundo do direito. Assim, pode-se escolher trabalhar com George Orwell numa analogia de sua “Revolução dos Bichos” para o mundo dos fatos.

Ou ainda, invocar exemplos considerados essenciais do autor que está analisando, como em Alexandre Dumas e a pena de esquecimento de seu Monte Cristo.

3. Encontre a brecha para introduzir a obra e sua citação

Encontrar a brecha para a introdução do pensamento de alguma obra é essencial. Todavia, deve estar bem claro onde deseja chegar ou que pretende alcançar com seu trabalho. O objetivo geral deve estar muito bem delineado e os objetivos específicos traçados em concordância com o primeiro.

Dessa forma, ao analisar a questão da prisão ilegal, pode-se citar a saga de Memórias do Cárcere de Graciliano Ramos. Da mesma forma, se versar sobre a aceitação de retirantes, imigrantes e estrangeiros nas capitais, pode-se usar Melo Neto e sua Morte e vida Severina ou Vitor Hugo e seu Trabalhadores do mar.

Importante ressaltar que dentro de seu artigo ou tema deve estar delineado o assunto tratado e trazido na obra literária. Jamais utilize exemplos descabidos e que versem sobre o tema de uma forma passageira, pois o autor que se cita em obra geralmente é (e deve ser) reconhecido por seu estudo.

Dessa forma, ao citar os direitos humanos se pode usar de Vitor Hugo, reconhecidamente uma pessoa que muito se dedicou e escreveu sobre as mazelas de seu tempo e o sofrimento das pessoas.

4. Estruture seu trabalho em conjunto com a obra analisada

Não é fácil estruturar a Monografia com a obra de algum autor influente que versa sobre a área do direito ou das ciências sociais que está tratando e pesquisando.

Para isso, é necessário saber o que o escolhido relata em suas linhas, para tanto, é preciso ler o livro. Entrelaçar a obra como exemplo de sua pesquisa não é apenas utiliza-la em um determinado momento do trabalho, mas sim, leva-la até o fim como uma marca registrada.

Dessa forma, finalizar o trabalho trazendo o enlace entre a vida real e o exemplo trazido/escolhido denota uma segurança que demonstra que realmente estudou a obra e a utilizou com responsabilidade.

5. Conheça autores estrangeiros, mas privilegie os valores brasileiros

Há no Brasil inúmeros autores que trouxeram além do relato de seu tempo, também suas experiências e narrações históricas que comprovam os costumes de determinada época. Machado de Assis construiu em seus livros a visão que tinha da elite dominante de seu tempo, demonstrando o poder do patriarca.

Graciliano Ramos, João Guimarães Rosa e Euclides da Cunha demonstraram a aspereza de determinada região do país. Da mesma forma, Dostoiévski trouxe a sua versão do crime em Crime e Castigo, Patrick Susskind e seu romance O Perfume repleto de ideias sobre inimputabilidade ou Shakespeare e o contrato invalido em seu Mercador de Veneza.

Dependerá muito do viés estudado e da pesquisa elaborada, todavia, a lista é imensa e traz nomes esplêndidos que podem ser utilizados, tanto do exterior como da nossa própria pátria.

A dica é: se puder utilizar nossos próprios e domésticos exemplos seria de uma validade imensa, pois além de citar pessoas que conhecem nossas mazelas, incentiva e homenageia nossos nomes. Nota: autores latino-americanos como Eduardo Galeano, Gabriel García Marques…

6. Aprendar a fazer as citações

É muito chato ler um artigo ou trabalho cheio das citações que ficam no meio da página com uma letrinha bem menor não é mesmo? Muitas vezes elas são realmente necessárias, quando não há como expressar o momento do autor e sua brilhante ideia.

Porém, a interpretação ainda é a melhor saída, desde que combinada com o que de fato quer dizer o autor. Traga a ideia de seu escolhido para o texto, conte-a em parcimônia com seu exemplo, cite a obra e prefira descrever ao leitor a ligação entre os dois, o seu trabalho/tema e o do escritor.

7. Localize a história no tempo

Não esqueça de localizar a história no tempo, sua data e mais precisamente os enlaces históricos e lutas sociais travadas naquele tempo. Se, na Monografia, versar sobre a Inglaterra de 1810, não há como deixar de citar a Revolução dos Luditas (Ludismo). Ao trazer o Brasil de 1830 e suas insurreições, não há como deixar de citar revoltas importantes como a dos Malês na Bahia. Sempre situe o seu exemplo no tempo para validar sua pesquisa.

8. Tenha o livro em mãos

Desde a escolha para sua utilização tenha o livro em mãos, leia o livro e saboreie suas páginas. Na defesa de sua monografia, se for o caso, esteja com a obra, demonstre se questionado for a importância do texto do autor em sua época e a relação com o seu trabalho e a sua área do direito escolhida. Se preciso, leia em voz alta as frases selecionadas que causam o impacto e esclarece sem sombra de dúvidas a interligação entre a realidade e o exemplo trazido.

9. Seja científico

O exemplo utilizado deve ser legitimado por autores que fazem o estudo cientifico, ou seja, confirmados pelos seus marcos teóricos. Ao trazer exemplos sobre o marginal em Vitor Hugo, logo em seguida identifique os autores que realizaram estudos a respeito, como Stonequist, Lévinas, etc. Se o exemplo for sociológico, contribua para a aceitação da obra literária trazida com o estudo de alguém da área. Da mesma forma; ao tratar do processo penal e trazer Kafka, em seguida, corrobore sua ideia com autores que explicam o processo penal consciente, como Alexandre Morais da Rosa, e assim por diante.

10. Seja criativo e crítico

Em sua Monografia, não escreva o que já escreveram. Isso é matéria para “tautologistas” de plantão. Chega de pleonasmo e de redundâncias. Crie e preserve um senso crítico responsável, que possa ser legitimado por autores que contribuam com a análise crítica da questão trazida. Fuja do “mesmimo”, esse é o caminho para seu doutorado e para uma sociedade mais consciente!


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Iverson Kech Ferreira

Mestre em Direito. Professor. Advogado.

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