A luta pela liberdade, Pablo Neruda e a Máscara do Zorro
A luta pela liberdade, Pablo Neruda e a Máscara do Zorro
Não à toa as histórias que refletem o espírito humano em busca de liberdade, cooptada por corruptos tiranos, afirmam o manifesto do indivíduo que não abre mão de sua autodeterminação.
Tanto que as grandes narrativas de heróis que defendem a população acossada pela tirania perseguem de todas as formas as qualidades do personagem íntegro, aquele que luta contra a exploração do oprimido. Nesses casos, a história ganha vida pelas ágeis mãos dos grandes escritores e narradores das façanhas do paladino defensor dos necessitados.
Pablo Neruda, em 1950, abre sua grandiosa caixa de ferramentas para descrever o guerrilheiro e justiceiro chileno Manuel Rodriguez Erdoíza (1785-1818), que dedicou sua vida contra o império espanhol que acossava a região chilena. Nesse período (1810-1817), quando a crescente invasão em forma de sequestro de vidas, terras e tesouros, trilhava pelas forças do poderio militar da maior nação bélica da época; alguns travaram históricas lutas contra o agressor e usurpador espanhol.
Diz Pablo Neruda, em seu poema de 1950, intitulado Manuel Rodriguez, que necessita saber quem é o herói que cavalga seu cavalo negro; obtendo por fim o nome do destemido, como se isso o animasse em sua própria luta pessoal, em qualquer momento que precisasse do ardor do corajoso, este estaria lá.
Reza a lenda que Manuel Rodriguez incentivou o banditismo social, que ficaria bem conhecido no Nordeste Brasileiro de Lampião anos depois. Nessa aventura de Robin Hood, o herói enfraquecia com sua guerrilha bem organizada o vasto poderio espanhol e aos poucos, ganhou fama e respeito.
Também afirma a saga que este seria a inspiração do Zorro, criado em 1919 pelo escritor norte-americano Johnston Mculley. Don Diego de La Vega, ou o Mascarado Solitário; seria um fora da lei que retirava/roubava da coroa estabelecida por sua força de destruição, e defendia/rendia esperanças aos mais novos, e um sopro de revolução levantava-se com a presença do herói de máscara e cavalo negro.
Jhon Rollim Ridge, considerado o primeiro escritor nativo americano, membro da Grande Nação Cherokee, trouxe em suas pesquisas e logo após em seu romance intitulado Vida e aventura de Joaquin Murieta, em 1950, uma outra opção para o nascimento do herói mascarado, defendendo o povo da Califórnia contra os apupos da coroa espanhola.
Murieta era um bandido temido, e ao mesmo tempo, um mexicano ufanista que roubava dos ricos espanhóis e redistribuía aos pobres da região.
De qualquer forma, a raiz do Zorro parte da luta do homem pela liberdade e pela batalha contra a exploração, galopando em favor de seu povo; perfazendo seu caminho na trilha do herói.
Neruda ainda deixa claro que a opção do herói é seguir sua súplica de liberdade e sua crença no coração do homem, que anseia por independência; trazendo consigo a bandeira da coragem e da força contra os invasores.
E é nessa questão que a lenda do Zorro se encontra. Seja lutando contra o atrapalhado sargento Garcia ou em combate com as forças espanholas, o espirito latino americano continua firme. Na invasão espanhola a figura moderna da morte se enquadra em massacrar o espírito do povo local a partir de suas crenças, inserindo o medo dos novos demônios que se fariam presentes e rezando para os novos deuses trazidos do além mares; para que mantenham a fúria do homem branco moderada.
Esse caminho de cruzada da conquista trazia consigo a destruição das nações e dos povos latinos americanos em grande escala, tanto que a população mexicana indígena, estimada em 25 milhões na época do descobrimento não chegaria em 1570 aos 2,6 milhões.
Contra essa barbárie e contra toda a violência da devastadora colonização latino americana, ergueram-se homens, alguns na forma do real banditismo social da época, e como Robin Hood ou Joaquin Murieta, encheram os corações e mentes das pessoas de esperanças de dias melhores.
Outros, como Manuel Rodriguez ou o fictício, mas bem real Zorro, travavam sua luta contra a tirania que se alastrava e levava consigo a alma do povo, sua cultura e sua perseverança. A estes homens, serviram incríveis poetas, como Neruda, que não deixou sua herança heroica perecer pelo tempo:
Señora dicen que donde,
mi madre dicen, dijeron,
el agua y el viento dicen
que vieron al guerrillero.
Señora dicen que donde,
mi madre dicen, dijeron,
el agua y el viento dicen
que vieron al guerrillero.
Puede ser un obispo
puede y no puede
puede ser sólo el viento
sobre la nieve
sobre la nieve, sí,
madre no mires,
que viene galopando
Manuel Rodríguez.
Ya viene el guerrillero
por el estero.Pablo Neruda. Poema: Manuel Rodríguez. Edición: Canto general. México, Talleres Gráficos de la Nación, 1950