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Parques temáticos: diversão x exploração

Parques temáticos: diversão x exploração

Parques temáticos sempre foram sinônimos de diversão – mas apenas para os humanos. Para os animais que lá vivem e/ou se apresentam nada é divertido.

A Disney é composta por doze parques temáticos localizados em seis complexos ao redor do mundo.

Mesmo com padrões incrivelmente altos de atendimento aos animais, com o seu próprio hospital veterinário e uma vasta equipe de profissionais, a Disney está cumprindo apenas com a obrigação de se responsabilizar por animais em prol do entretenimento.

Pode-se afirmar, também, que […]

a exploração animal não deixa de ser contada como impulsionamento para o lucro de determinados parques que ainda utilizam animais como entretenimento. (ANIMAL KINGDOM…, 2018).

A organização In Defence of Animals – fundada em 1983 e defensora dos direitos dos animais – alega que

o parque Animal Kingdom […] é um dos piores zoológicos do mundo para elefantes. A associação baseada na Califórnia elencou o parque, em 2014, na décima posição de uma lista elaborada com os piores zoos do mundo. (AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DE DIREITOS ANIMAIS, 2014).

Parques temáticos e animais para entretenimento

Mas não é só a Disney que usa os animais para entretenimento.  O SeaWorld e o Universal Orlando também apresentam shows com animais.

Uma das pouquíssimas vezes que assisti foi um pouco depois do ataque de uma orca a uma treinadora e a sua consequente morte. […] não é da natureza da orca fazer malabarismos, dar beijinhos em shows…  seu lugar é o oceano.  Não curti o show (só assisti o das orcas), pensei o tempo todo na vida totalmente fora de contexto desses animais, fora de seu habitat e seus hábitos naturais… (PEIXOTO, 2012).

Sabemos que orcas, golfinhos, focas, leões marinhos e outros animais encontrados nesses parques temáticos deveriam estar nos oceanos. Segundo a organização People for the Ethical Treatment of Animals (PETA), no Brasil há restrições e normas que tornam quase impossível que companhias mantenham golfinhos e baleias, como orcas e belugas, em cativeiro.

Mas nos Estados Unidos a história é diferente. [Esses animais] sociáveis e inteligentes são mantidos em tanques deploravelmente pequenos no SeaWorld. No mar aberto as orcas podem nadar até 160 quilômetros por dia e os golfinhos até 96 quilômetros, mas baleias e golfinhos cativos são confinados em tanques tão pequenos que eles nada podem fazer a não ser nadar em círculos ou flutuar inertemente. Os sons emitidos por seus sonares batem nas paredes dos tanques e voltam, enlouquecendo-os (PETA, 2015).

Orcas e parques temáticos

A PETA ainda lista fatos que ocorrem com as orcas no SeaWorld, em Orlando:

  • As orcas foram sequestradas de seu habitat e enviadas para o SeaWorld;
  • Algumas das orcas que não foram capturadas foram mortas;
  • Os animais sofrem em lugares apertados, sob condições anormais;
  • Orcas em liberdade não matam pessoas, mas no SeaWorld elas matam;
  • Orcas não vivem muito tempo em cativeiro. Orcas no SeaWorld estão morrendo muito aquém de sua expectativa de vida natural. Quarenta e uma morreram com uma idade média de apenas 14 anos. Nenhuma delas atingiu o tempo máximo de vida de uma orca na natureza.
  • Em cativeiro, todas as orcas macho adultas sofrem de prolapso das nadadeiras dorsais. O SeaWorld afirma que isto é comum e natural. Entretanto, o prolapso das nadadeiras dorsais é causado pelo ambiente anormal do cativeiro, e raramente é notado no ambiente natural. Na natureza, apenas 1 a 5% das orcas macho em algumas populações (e nenhuma em outras populações) sofre de prolapso das nadadeiras dorsais, e nesses casos costumam ser resultado de ferimentos.
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Orca com prolapso da nadadeira dorsal (Crédito: SeaWorld)
  • As queimaduras solares são cobertas com óxido de zinco preto. As orcas no SeaWorld passam a maior parte do tempo na superfície da água, com pouca ou nenhuma sombra para abrigarem-se do sol escaldante. Na natureza, as orcas passam até 95% de seu tempo submersas e encontram sombras nas profundezas do oceano, mas no SeaWorld os tanques são rasos demais para mergulhar. O tanque mais fundo tem 12 metros de profundidade – nem perto do suficientemente profundo para dar-lhes alívio das agressões do ambiente. Antigos treinadores relatam que, devido a isto, as orcas sofrem permanentemente de queimaduras de sol, as quais são escondidas do público com a ajuda do óxido de zinco preto, que é da mesma cor de suas peles.
  • As orcas não são mantidas em grupos compatíveis, e brigam entre si. Orcas incompatíveis entre si são forçadas a conviver em espaços ínfimos. A ansiedade e tensão resultantes podem ocasionar brigas. Na natureza, quando ocorrem brigas, elas podem simplesmente nadar para longe umas das outras. Em cativeiro não há para onde escapar, o que leva a ferimentos graves.
  • Famílias são desfeitas. Orcas são animais altamente sociáveis que vivem em grupos estáveis, compostos de dois a quinze indivíduos. O SeaWorld tem rotineiramente separado mães de seus rebentos, enviando filhotes para vários parques temáticos ao redor do mundo (PETA, 2015).

Como se pode perceber,

é um negócio construído sobre o sofrimento de animais inteligentes e sociáveis, a quem é negado tudo o que é natural e importante para eles. (PETA, [s.d]).

O SeaWorld, que detém todas as orcas mantidas em cativeiro nos EUA – exceto uma –, tem uma longa história de maltratar animais. Na natureza, as orcas são predadores inteligentes que trabalham cooperativamente em busca de comida. Elas compartilham relações complexas em uma sociedade matrilinear.

As orcas livres estão entre os animais mais velozes do mar, podem nadar até 140 milhas por dia e mergulhar nas profundezas. Mas no SeaWorld elas nadam em círculos sem fim em pequenos tanques de concreto, como se pode ver na figura abaixo (PETA, [s.d]).

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Espaço disponível para uma orca no SeaWorld, comparativamente ao espaço disponível na natureza (Crédito: SeaWorld)

A partir da polêmica com o lançamento do documentário Blackfish, em 2013, que conta a história da baleia Tilikum e mostra ex-treinadores do SeaWorld denunciando maus-tratos aos animais, a companhia anunciou que transformaria os espetáculos em ações educativas. Ainda há acrobacias e entretenimentos no show com golfinhos, mas agora os treinadores falam também sobre os hábitos dos animais.

Quanto às orcas, o cenário passará por mudanças, ganhando quedas d’água e pedras para deixá-lo mais “natural”. O número de orcas será reduzido ao longo das próximas décadas. Em 2016 a empresa anunciou que não criaria mais orcas em cativeiro. A última delas nasceu em 2017 (ZAREMBA, 2017).

Por mais que alguns considerem que os animais silvestres são bem tratados nos habitats para os quais foram deslocados, devemos considerar que o simples fato de os seres humanos os terem retirado ou privado de seu lugar de origem já pode ser considerado maus-tratos.

Apesar disso, cada vez mais podemos dizer que, felizmente, muitas pessoas estão se conscientizando de que não há diversão quando animais são explorados. Afinal de contas, o lugar de animais silvestres e selvagens é a natureza.


REFERÊNCIAS

AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DE DIREITOS ANIMAIS. Parque da Disney é acusado de maltratar animais após morte de elefante. 2014. Disponível aqui. Acesso em: 19 nov. 2018.

“ANIMAL KINGDOM” Walt Disney explora animais para entretenimento em parque temático. 2018. Disponível aqui. Acesso em: 20 nov. 2018.

PEIXOTO, Flávia. Exploração e maus tratos de animais em shows.. até quando? 2012. Disponível aqui. Acesso em: 20 nov. 2012.

PETA. About PETA’s Campaign Against SeaWorld. [s.d.]. Disponível aqui. Acesso em: 19 nov. 2018.

PETA. Se você se importa com os animais, não visite o SeaWorld em suas férias. 2015. Disponível aqui. Acesso em: 19 nov. 2018.

ZAREMBA, Júlia. Após críticas, Sea World deixa shows com orcas e golfinhos mais educativos. Folha de São Paulo [online], 29 jun. 2017. Disponível aqui. Acesso em: 19 nov. 2018.

Gisele Kronhardt Scheffer

Mestre em Direito Animal. Especialista em Farmacologia. Médica Veterinária.

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