Como o PCC e Comando Vermelho conseguiram comprar 43 mil armas?
Uma empresa sediada no Paraguai adquiria armas de fogo poderosas no leste do continente europeu. Ela raspava a numeração e mascarava a marca das armas para que pudesse vendê-las no mercado ilegal. A compra desse armamento era feita pelas principais facções criminosas do Brasil: o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV).
Um grupo criminoso teria entregado cerca de 43 mil armas a essas facções, em transações que movimentaram cerca de R$ 1,2 bilhão em três anos. O esquema foi revelado por uma investigação conjunta entre a Polícia Federal (PF) da Bahia e autoridades do Paraguai.
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Empresário alvo da operação
Nesta terça-feira (05), a PF baiana deflagrou uma operação policial que tinha como principal alvo o empresário argentino Diego Hernan Dirisio, dono de uma empresa no Paraguai que importava armas de países como a Croácia e a República Tcheca. Até o momento, 19 pessoas foram presas.
Flávio Albergaria, superintendente da Polícia Federal na Bahia, contou que a investigação iniciou há três anos, quando houve a apreensão de 23 pistolas e dois fuzis. Além da numeração raspada, a logomarca do fabricante foi alterada.
“Mediante perícia técnica, conseguimos identificar o número de série (mesmo raspado) e fizemos o rastreio das armas”, explicou em coletiva no Palácio da Justiça, em Brasília, ao lado do ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, e integrantes das polícias brasileira e paraguaia.
Com a identificação das armas apreendidas, os investigadores chegaram à empresa fabricante na Croácia e descobriram quem era o importador: o empresário argentino Diego Hernan Dirisio.
Esquema de camadas
O delegado responsável pelas investigações, Diego Cordilho, disse que foram identificadas diversas camadas da organização criminosa, desde a compra na Europa até a chegada aos criminosos do PCC e Comando Vermelho.
Esse esquema iniciava na empresa paraguaia, que revendia para dois intermediários na fronteira com o Brasil. Também havia o núcleo de vendedores e de logística, para as armas serem transportadas pelas rodovias brasileiras.
Além disso, havia uma área financeira e de doleiros (negociadores de dólar no mercado paralelo), para lavar o dinheiro recebido pelo tráfico. Empresas de fachada, que não tiveram seus nomes divulgados, foram abertas em Miami para conseguir declarar o dinheiro do tráfico de drogas.
43 mil armas
De acordo com as investigações, nos últimos três anos, a importadora de armas no Paraguai comprou cerca de 43 mil armas. A suspeita é de que a maioria delas tenham como destino o crime organizado.
O ministro da Secretaria Nacional Antidrogas do Paraguai, Jalil Rachid, explicou que não faz sentido essa quantidade de armas apenas para o mercado paraguaio, que não exige tal demanda.
Durante a coletiva, o ministro da Justiça e Segurança Pública Flávio Dino chamou atenção para a falta de organização do credenciamento de armas no Paraguai, o que teria facilitado o esquema criminoso.
Uma imagem do arquivo do órgão paraguaio que realiza controle de importações de arma dá uma dimensão do problema. A foto mostra prateleiras com arquivos claramente desorganizados.
Flávio Dino fala sobre combate ao tráfico de drogas
O ministro Flávio Dino aproveitou a operação da PF baiana para se manifestar em defesa de ações mais inteligentes no combate ao tráfico de drogas, sem “dar tiros a esmo” em operações em que brasileiros são mortos por balas perdidas.
“Aqui não houve o disparo de um único tiro. Então, não houve bala perdida. Isso é combater o crime organizado de verdade”, afirmou o ministro da Justiça.
Fonte: Metrópoles