PCC: Narcosul
PCC: Narcosul
Para os estatutos do PCC e uma cuidadosa interpretação comparativa das suas diferentes gerações, ver o trabalho de Diorgeres de Assis Victorio, disponível no Canal Ciências Criminais (…) (FELTRAN, Gabriel. Irmãos: uma história do PCC. São Paulo, Companhia das Letras, 2018, p. 294) (g.n.)
Fazendo um gancho com a nota de FELTRAN, estou a tratar agora de um estudo mais aprofundado da organização criminosa PCC, ainda que no Terceiro Estatuto, no seu quarto mandamento, eles já se autodenominassem organização criminosa.
Então, se a leitora/leitor não teve a oportunidade de estudar as Gerações do PCC (Primeira Geração, Segunda Geração e Terceira Geração) e está dando os “primeiros passos” e lendo essa humilde contribuição à Criminologia Penitenciária, sob a ótica da “categoria” de “Bandos e Gangues de Terceira Geração” do crime organizado, informo que ser difícil compreender, mas vou ajudar aqui àqueles que não leram os outros estudos das Gerações do Narcosul.
Vou apontar resumidamente aqui uns pontos dessas gerações e estatutos que entendo serem relevantes para compreensão desse fenômeno criminoso, que, para muitos, é muito árduo estudar, devido ao acesso ao local (prisão) e a “certos lugares das galés”. Mas, como sou agente penitenciário, tenho melhores condições de estudar o que quiser. Experienciava aquele mundo misterioso e, com isso, conciliava para aprender sobre cadeia com aqueles que saiam do Anexo da Custódia de Taubaté (denominado, pelos mesmos, como Piranhão, Caverna).
Então, a minha escola do cárcere foi adquirida na conversa com os criminosos, dos motivos da morte ou das mortes, dos salves da Capital, da vinda de integrantes do CDL, CRBC, CJVC, Seita Satânica, e de outros bandos sediciosos dissidentes (que venho estudando desde 1994) ao criador do Narcosul.
O PCC necessita dominar os presídios de outros países e verifico que está utilizando a mesma técnica que o vi empregar na década de 90, ou seja, vai decapitando e, assim, aterrorizando os presos e dominando o sistema prisional de outros países.
O Paraguai já está sofrendo com essa técnica muito eficaz do NarcoSul. O mesmo sempre agiu de “dentro para fora”. Os Salves sempre saem das prisões e, via de “regra”, através dos pipas (bilhetes manuscritos). Assim as missões são dadas, em conformidade com o perfil de cada irmão, ou seja, trabalha em qual área do crime, qual a sua especialidade que vai ser aproveitada pela organização criminosa. Afinal de contas, é o que prevê a Terceira Constituição:
As Gerações vão mudando, mas os objetivos dos Estatutos de Outras Gerações que ainda não foram concluídos permanecem para ser alcançados. Quando obtidos, são eliminados no próximo Estatuto. A história do PCC nos mostra isso. A desativação da Caverna foi uma conquista da organização criminosa. A desativação do primeiro RDD do Brasil estava prevista como prioridade, conforme o artigo 14 do Primeiro Estatuto, e foi concluída após uma rebelião que inutilizou a unidade prisional, vindo a ser transformada posteriormente em Hospital de Custódia e Tratamento Penitenciário.
Aqui tratamos da Primeira Geração do PCC, aquela que é regrada pela Carta Magna do Cárcere (que tem pena capital), ou seja, o Primeiro Estatuto do PCC. Nessa geração, para dominar as prisões, o partido exterminava aqueles que tentavam impedi-lo e se apoderavam da unidade. Atualmente a porcentagem de cadeias que não estão sob domínio do PCC é quase insignificante.
Verificamos agora que na Geração Narcosul estão empregando o encarceramento de seus membros em certos países e certas prisões. É a mesma técnica empregada na Primeira Geração para controlar o sistema prisional paulista e depois utilizada para dominar outros estados do Brasil, não esquecendo que desde 2018 a fronteira do Brasil com o Paraguai já está sob seu controle.
Com o emprego de metralhadora .50 (no Exército eu tive a oportunidade de utilizá-la), o PCC matou quem comandava a fronteira do Paraguai com o Brasil. A conquista desse território foi importantíssima para o funcionamento do funil do Narcosul.
Mas porque não estender um pouco, mais não é mesmo? Como deixar de fora outras fronteiras, principalmente a da região da Amazônia, com a Colômbia ali de portas abertas? Vejamos o que o Terceiro Estatuto nos diz sobre o interesse territorial do Partido do Crime:
A atual geração do PCC tem controle da maioria das fronteiras que lhe são “interessantes”, sob a ótica empresarial da organização criminosa (Narcosul), pois estrategicamente servem de escoamento da droga que veio através da passagem pela fronteira que está sob seu poderio.
Na Amazônia existe a “organização criminosa” FDN (Família Do (sic) Norte), que é inimiga da “organização criminosa paulista” (PCC). O tráfico de drogas é feito de barco nessa região e nesse local existe uma facção criminosa denominada Piratas, que rouba as drogas e mata as pessoas que estão traficando a droga para o Brasil, pelos diversos veios de água que existem nos locais. Por esse motivo são odiados pela FDN.
O PCC não se esqueceu do provérbio “O inimigo do meu inimigo é meu amigo” e se uniu aos Piratas. Inclusive, Coari é o território dos Piratas e obviamente o PCC agora utiliza o local como sua base, tendo em vista as benesses que lhes são serão geradas em virtude da localização geográfica.
Daremos continuidade ao artigo em uma outra oportunidade.
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