Controvérsias no perfil do assassino em massa
Controvérsias no perfil do assassino em massa
No dia 13 de março de 2019 ocorreu um caso de assassinato em massa no Brasil, agora conhecido como o massacre de Suzano, onde dois homens mataram oito pessoas em uma escola de Suzano no interior de São Paulo e depois morreram. Os brasileiros se viram comovidos pelo nível de crueldade contra estudantes adolescentes e funcionários da escola.
Essa é mais uma notícia de um assassinato em massa no país pouco tempo depois da atuação do atirador da Catedral, que ocorreu em 11 de dezembro de 2018 deixando cinco mortos, além do próprio atirador em uma Catedral em Campinas, também no interior de São Paulo.
Como se não bastasse, dois dias depois do massacre de Suzano, um atirador em Christchurch, interior da Nova Zelândia, atirou contra muçulmanos em uma Mesquita deixando 50 pessoas mortas e pelo menos 20 feridas, sendo considerado um ataque terrorista pela primeira-ministra do país.
Nessas horas as pessoas querem respostas e descobrir formas de prevenir e evitar esse tipo de coisa. Culpam as armas, os videogames, falta de educação, bullying e se perguntam que tipo de pessoa vai até um local e resolve matar o maior número de pessoas desconhecidas sem se importar com as vidas tiradas e suas consequências.
Com relação ao perfil criminal, existem controvérsias e por isso a discussão se mantém. Entre os estudiosos da área se fala principalmente nas seguintes características: maioria são homens; mínimo de 4 vítimas em um curto período de tempo e em um mesmo local; o espaço escolhido normalmente é público; o uso da arma de fogo ocorre na maior parte dos casos; o assassino não considera ser capturado; costuma ter problemas mentais e traumas de infância.
Contudo, em seu texto, Daniel Victor afirma que estudos nos Estados Unidos apontam existir, na verdade uma única característica que aparece com mais frequência: o fato dos assassinos em massa serem, em sua maioria, homens.
Apesar disso, existem outros fatores muito presentes nesses casos e que também merecem ser apontados. Um deles é o narcisismo e a procura pela fama. Análises de experts e do FBI apontam muitas evidências de comportamento narcisista em grande parte dos assassinos em massa, de tal forma que afirmam como fator de risco identificar esses assassinos pelo nome e mostrar fotos em veículos de comunicação, pois eles buscam notoriedade com suas atitudes e acabam ficando conhecidos e reverenciados. Além de ser uma forma de alimentar outras pessoas que buscam o mesmo.
Há também a presença de um acontecimento marcante e negativo que serve de gatilho seguido de um senso de injustiça nesses indivíduos, que os levam a tomar a decisão de cometer esse crime. Eles acreditam que foram maltratados e excluídos de alguma forma, que não mereciam passar por certas dificuldades e que alguém precisa pagar por isso, não havendo uma pessoa específica como alvo e sim várias aleatórias.
Vale ressaltar que sobre transtornos e doenças mentais não existem dados determinantes, pois muitos morrem sem procurar ajuda profissional, então não possuem diagnóstico, tornando difícil encontrar evidências claras sobre o tema. Dos casos que puderam ser estudados, foi demonstrado que em parte deles existiam sinais de depressão, paranoia e outras perturbações mentais.
Perfil do assassino em massa
De qualquer forma, as características dos assassinos em massa acabam se mostrando muito heterogêneas e por isso de difícil padronização, até por conter aspectos muito comuns em suas formações. Nenhuma dessas características individualmente são suficientes para definir quem seria capaz de cometer o crime e como preveni-lo.
Bruce Bower em seu texto fala sobre a dificuldade da ciência em explicar e estudar assassinatos em massa:
O criminólogo James Alan Fox da Universidade de Northeastern em Boston argumenta há mais de 20 anos que os pesquisadores do crime em sua maioria ignoram assassinatos em massa. Alguns desses pesquisadores assumem que qualquer causa que leva as pessoas a cometerem qualquer forma de assassinato pode explicar tiroteios em massa. Outros consideram que as mortes em massa são movidas por transtornos mentais graves e assim ficam fora do âmbito dos estudos sobre crime.
Fica claro que existem dificuldades para conseguir evidências comportamentais nesses casos mesmo com o advento da autópsia psicológica, e por isso não existem estudos suficientes sobre a área, mas também há a falta interesse dos pesquisadores, algo que acaba atrapalhando na definição com amparo científico do perfil criminal desse tipo de assassino em massa.
Apesar de eu, particularmente, acreditar que os assassinos de aluguel são os tipos de assassinos menos estudados pelos pesquisadores e com alto potencial ofensivo, pois chegam a matar inúmeras pessoas em um longo período de tempo pela dificuldade de identificação, entendo também que os assassinatos em massa, mesmo acontecendo com pouca frequência, são extremamente perigosos.
Seus crimes são amplamente divulgados, criam enorme sofrimento e sensação de medo para a população, e mesmo assim existem poucos estudos conclusivos sobre seus perfis. Por que não investir em estudos focando na análise dos padrões comportamentais em busca de uma forma de prevenção?
REFERÊNCIAS
SANTORO, Clarice. Assassinos em massa: atirador da Catedral. Disponível AQUI.
Daniel Victor. Mass shooters are all different, except for one thing: most are men. Disponível AQUI.
Brad J. Bushman. Narcissism, fame seeking, and mass shootings. Disponível AQUI.
Bower, Bruce. Why science still can’t pinpoint a mass shooter in the making. Disponível AQUI.
NICOLETTI, Thais. Homicídios em massa: o padrão comportamental dos assassinos suicidas. TCC, pós-graduação. IPEBJ, 2018.
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