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Permissão para matar: a verdadeira história de James Bond

Permissão para matar: a verdadeira história de James Bond

Atuando nas sombras desde 1909 o SIS (Secret Intelligence Service), mais conhecido como MI6 (Military Intelligence, Section 6), teve um paradigma totalmente formulado nas aparências e na elegância de agentes secretos criados por Ian Fleming, representados pelo ícone mundial James Bond, famoso mundo afora por seus aforismos.

A idiossincrasia desenvolvida pelo escopo deleitável dos personagens em um eterno amalgama aos trejeitos e singularidades épicas que definem o espião representa (e isso com toda exatidão) o vulnerável mundo de espectros que rondam o bem e o mal; em um inacabável conflito de interesses.

Esses intuitos sempre se deslocam para todos os lados; seja a exploração do petróleo de forma leviana, pelo abuso da força em governos totalitaristas ou pelo absolutismo da congruência das influencias, que devem permanecer em torno dos mais fortes.

Em todo o tempo de MI6 existem apenas duas mortes acusadas em seus registros como responsabilidade de seus agentes, (e uma dessas foi um acidente) segundo o livro do historiador inglês Keith Jeffery, escrito em 2010: “A história secreta do MI6”, que recebeu permissão do alto escalão do governo britânico para contar os passos da tão famosa agência.

“Não havia permissão para matar”, segundo o autor, o que havia era um jogo de aparências, onde alguns espiões eram escalados, mais precisamente nas duas guerras mundiais, para colher informações a respeito das decisões dos comandantes de países em guerra, que poderiam comprometer o Reino Unido.

Era intuito principal dos agentes descobrir se o seu país natal era alvo, se era temido ou se era considerado descartável. Nesse sentido, encontrar-se com pessoas que não apoiavam os ditames de seus governos era um programa quase certo.

Ian Fleming formou-se jornalista e na segunda guerra atuou na inteligência britânica, o que lhe forneceu todo o cabedal para a criação do seu famoso agente. Retirou o estereótipo de Bond de um amigo seu que conhecera na guerra, e posteriormente viria a prestar serviços para o MI6, chamado Bill “Biffy” Dunderdale, famoso com as mulheres e fã de carros esportivos, sempre bem vestido para todas as ocasiões.

Curiosamente esta foi uma confissão do livro de Keith Jeffery, unindo a realidade dos agentes secretos, nem tão luxuosa como os filmes de espião, com a literatura de Fleming.

Importante frisar que James Bond é um personagem da ficção. Os agentes da vida real não possuíam o codinome 00 antes do 7 ou qualquer outro número que dava a autoridade sobre a vida de qualquer pessoa, mesmo que seja um inimigo declarado da rainha.

A permissão para matar dependia de sua própria defesa (legitima) ou na defesa de terceiros, muito mais em razão de sua vida pessoal do que de sua própria função de agente especial, que era meramente a de especulador da realidade fora das fronteiras do que de um superespião como o retratado pelo cinema.

Mesmo os livros de Fleming, que iniciaram com Casino Royale em 1953 até Octopussy em 1966 remontam um personagem cerceado por seus subjetivismos patrióticos, armado para a defesa dos incoerentes ataques de inimigos da rainha, e esse inimigo era quase sempre a URSS.

Os russos moldaram o pensamento de guerra e paz do ocidente, principalmente nas épocas da grande cortina invisível conhecida por guerra fria.

Eles eram o inimigo que se combatia nas sombras.

Apenas com a Segunda Guerra Mundial e com seus déspotas foi que se desviou um pouco o olhar da Perestroika, para enxergar um vago momento de irreflexão e loucura, que foi a última guerra.

Antes desse obtuso acontecimento, os russos sempre foram os inimigos a se temer. Entretanto, todas as aventuras de Fleming remontam histórias que ele próprio ouviu do lado de dentro da inteligência inglesa, e em conjunto com sua imaginação e dom jornalístico, criou um personagem que nos é quase real.

Bond fez parte da infância de muitos e da vida de meio século em que os governantes dos países mais profícuos do mundo se ancoraram uns contra os outros em suas estruturas de poder; que eram as suas formações bélicas. O medo e o pavor moldam uma nação; e talham também os seus inimigos.

A superficialidade das verdades que os agentes traziam de volta ao lar era de uma vagueza absurda, segundo Jeffery, ao abordar a necessidade desse tipo de inteligência. Os contatos e os conhecimentos que os espiões faziam modelavam relações adaptáveis à sua sobrevivência, sendo assim, poucas eram as interações que realmente desfrutavam de boas informações.

Todavia, a MI6, ou o Circo, como é conhecida, já teve seu prédio central em Londres atacado por um míssil do IRA. Nessa sede, a central de inteligência britânica faz parte do grupo de segurança contra possíveis ataques ao Reino Unido e seus aliados, e foi lá, que James Bond ganhou vida.

O livro de Jeffery traz muita curiosidade, entre elas, alguns disfarces utilizados pelos espiões e a maneira qual escreviam seus recados aos outros (de maneira inusitada) usando o próprio esperma, que era imperceptível aos reagentes químicos utilizados para decifrar mensagens escondidas na época.

De toda forma, o historiador inglês consegue captar toda a criação de Fleming e a sua fonte de inspiração. Em mais de 800 páginas descreve os intuitos essenciais da Inteligência Britânica e seus passos que moldaram um ícone da indústria pop, vivo há mais de meio século e com muita energia ainda para o porvir.


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Iverson Kech Ferreira

Mestre em Direito. Professor. Advogado.

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