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Precisamos parar de chamar as pessoas de “bandido”

Precisamos parar de chamar as pessoas de “bandido”

Bandido, ladrão, assaltante, infrator, traficante, criminoso, delinquente, …

Quantas são as formas de rotular uma pessoa que pratica um ato considerado criminoso?

Em todos os lugares, desde que não se trate de pessoa com boas condições sociais, a notícia da prática de uma infração penal é lançada como: “Assaltante é preso”, “Traficante é morto a tiros”, “Bandido bom é bandido morto” e por aí vai.

Dentre os vários pontos em que necessitamos melhorar (no que se refere ao direito penal), está o fim da estigmatização de uma pessoa por praticar (e ser flagrado praticando) uma conduta contrária à lei.

Muitas vezes aquela é a primeira infração. Muitas vezes nem é “bandido”. Pode ter sido apenas a ocasião. Vai saber o que aconteceu na vida da pessoa para que ela fizesse o que fez.

Mas, não! É bandido, ladrão, safado, vagabundo, …

Já parou para pensar que a partir do momento em que rotulamos uma pessoa por praticar um crime (bandido, ladrão, traficante, assassino, …), transformando-a em algo que muitas vezes ela não é, estamos influenciando diretamente na transformação dela naquilo que afirmamos que ela é?

E esse rótulo a acompanha por um longo período. Em vários lugares e momentos ela será lembrado de que é “bandido”. A impossibilidade de tirar Certidão Negativa e conseguir emprego formal que o diga.

Por isso, estudos da criminologia moderna, incluindo aqueles voltados para a psicologia, apontam para a necessidade de pôr fim a esse rótulo, a essa estigmatização.

Quando rotulamos as pessoas, afastamos delas as suas naturais e indispensáveis condições que as tornam humanas, tanto no nosso trato para com elas, assim como no trato delas para com a gente e para com elas mesmas.

Depois de tanto ser chamada de “bandido” a pessoa realmente assume essa condição. Se todos dizem deve ser pelo fato de que realmente é.

Será que ainda falta muito para percebermos que não se trata de “nós x ‘eles’”, mas de nós e nós mesmos?!

Ainda dentro desse estudo da criminologia, surge a necessidade da sociedade se enxergar dentro dos presídios e daqueles que se encontram dentro dos presídios se enxergarem dentro da sociedade.

Não há divisão. No máximo, existem condições momentâneas que impedem a livre convivência, mas não divisão.

Todos que estão dentro dos presídios, independente das histórias individuais que os levaram a estar onde estão, são integrantes da sociedade em que vivemos, são, acima de tudo, humanos e dignos dos mesmos direitos fundamentais destinados a nós, que não estamos lá dentro…

… Mas podemos estar.

Uma direção sob efeito de álcool ou outra substância que cause dependência; um momento de perda de controle emocional; ou uma pensão alimentícia não paga é o suficiente para fazer com que você, “pessoa de bem”, se torne um “bandido”.

Como disse, basta uma ação e podemos nos transformar no “outro”, podemos parar lá dentro do local onde queremos esconder até a morte os “bandidos”.

Só que com você não é “bandido”, né?!

E esse é justamente o ponto em que precisamos chegar, não existe divisão, “nós x eles”, “pessoas de bem x criminosos”. Somos todos seres humanos integrantes de uma mesma sociedade. Ou evoluímos juntos ou ficamos como estamos, mergulhados em violência.

Um grande abraço a todas as pessoas que leem e até a próxima semana!

Pedro Magalhães Ganem

Especialista em Ciências Criminais. Pesquisador.

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