Policial que matou colega tirou 12 licenças por problemas de saúde em menos de 10 anos
O segundo-sargento Paulo Pereira de Souza, da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), que atirou contra um colega de corporação e tirou a própria vida, obteve 12 licenças médicas entre 2013 e 2021. De acordo com o advogado que representa a família do policial, os atestados eram para tratar de problemas psicológicos. O documento que reúne as licenças não especifica se, de fato, eram esses os motivos.
O caso do policial que cometeu suicídio após atirar em seu colega aconteceu no Recanto das Emas, no último domingo, 14 de janeiro. O soldado baleado se chamava Yago Monteiro Fidelis. Ele chegou a ser socorrido e levado ao Hospital Regional de Taguatinga (HRT), mas não resistiu aos ferimentos e morreu.
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Licenças tiradas pelo policial
Conforme consta na carteira de saúde do policial, que havia ingressado na PMDF em 2002, ele recebeu a primeira Licença para Tratar de Interesse Particular (LTSP) em junho de 2013, assinada por um neurologista. À época, ele ficou afastado por três dias.
Em dezembro do mesmo ano, o policial realizou outros dois exames médicos, nos quais recebeu atestados pelo período de 10 dias cada um. O documento, no entanto, não especifica quais seriam os problemas de saúde do sargento à época.
Em 2014, Paulo tirou três licenças, duas em janeiro e uma em novembro. Em 2015, foi registrada na carteira de saúde dele um afastamento de 30 dias, em março.
De acordo com o documento, as licenças assinadas por médicos da corporação após exames no policial também foram dadas nos anos seguintes, totalizando as 12 dispensas, que variaram de cinco a 30 dias, até setembro de 2021.
A LTSP é a autorização para o afastamento total do serviço, concedida ao militar, com mais de 10 anos de efetivo serviço, que a solicite com aquela finalidade. Elas podem ser pedidas em casos de tratamento de saúde de pessoa da família e para tratamento de saúde do próprio policial e, também, em casos especiais.
Esposa do sargento se pronunciou
Na última semana, a viúva de Paulo publicou nas redes sociais uma mensagem de carinho ao marido. Em tom de desabafo, a mulher destacou que faltou assistência ao militar.
“Você foi um herói, dedicou sua vida, uma vida inteira à Polícia Militar do Distrito Federal. E o que fizeram com você quando mais precisou? Deixaram você sem nenhuma assistência, deixaram você trabalhar doente. Acharam que transferir você para outro batalhão seria a solução”, lamentou.
Segundo a viúva, o Estado é o maior culpado do que ocorreu. Ela ressaltou ainda que não recebeu sequer uma ligação após o ocorrido. “Será que agora vão fazer alguma coisa? Espero que sim, para que nenhuma família passe por o que nós estamos passando”.
Policiais militares que conviveram com o segundo-sargento Paulo Pereira de Souza relataram que o PM tinha síndrome do pânico e “mania de perseguição”.
Fontes ouvidas pela coluna Na Mira detalharam que, constantemente, o sargento era visto com olheiras profundas e “parecia que passava noites sem dormir”.
Como foi a tragédia?
A tragédia que aconteceu no último domingo, no Recando das Emas, teve 3 policiais militares envolvidos. Os agentes estavam em uma viatura da corporação no momento em que ocorreram os disparos.
Paulo Pereira estava na parte de trás e teria atirado contra a cabeça de Yago Monteiro, que estava no banco do carona. O condutor do veículo, também segundo-sargento da PMDF, conseguiu escapar antes de ser atingido.
As mortes dos policiais foram um alerta para a saúde mental de profissionais da segurança pública. Segundo a Polícia Militar (PMDF), em 2023, foram homologados 2525 atestados de afastamento por doenças mentais. Apenas em dezembro, foram 191. Em média, a cada dia, seis PMs do DF tiveram de se ausentar das atividades policiais por estarem em sofrimento psíquico.
O que diz a PMDF?
Por meio de nota, a PMDF informou que instaurou um Inquérito Policial Militar (IPM) para investigar as circunstâncias das mortes dos policiais.
“Cumprindo o compromisso institucional com a transparência e com o intuito de bem informar a população, ao longo da semana as informações disponíveis e que não comprometessem o curso das investigações foram repassadas aos órgãos de imprensa. Novas informações, eventualmente obtidas, desde que não prejudiquem a apuração, serão divulgadas oportunamente com a devida observância da legislação vigente”, esclareceu a corporação.
Fonte: Metrópoles