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Precisamos falar sobre mulheres no tráfico


Por Ivan Morais Ribeiro


Tem coisas que são inexplicáveis. Não adianta ter conhecimento erudito ou científico. Quantas pessoas já não tentaram escrever sobre tráfico? Ou até mesmo sobre as mulheres no tráfico?

Em uma das minhas aulas no Mestrado, tentou-se desconsiderar a experiência prática em favor de um conhecimento erudito. Discordei no mesmo momento. Para mim, a prática é mais importante. Com todo o respeito, o conhecimento de um policial com anos de rua pode ser mais refinado substancialmente que o de um teórico de livro.

Então, resolvi sair do senso comum e escrever algo nesse sentido para chamar atenção para um problema muito importante: mulheres no tráfico.

Mama África?

Filha Brasil

Nega drama

Dama drama,

 

Novinha, aqui não.

Grava a sequência

É Snapchat,

Mostra o Quinzão[1] na mão.

 

Facebook, mais de mil curtidas,

Dona do baile, ousadia,

Uou, parou o trânsito, princesa!?

Não! Que ironia.

 

Baile de favela,

Ela veio quente, fervendo, desafiou

Os menor nem viu

Mas ela já lacrou.

 

Cé é loko, trutão, não chama ela de vapor[2].

O nome dela já subiu

A mina é de valor.

 

Às quintas, tbt,

Aos sábados, vila mix.

Tati quebra barraco já se foi.

Tati Zaqui é aqui.

 

Saia à rua, Ministro Gilmar[3]

Saia à Rua, professor de Federal

Se não entender a natalidade nos presídios

Nem venha pra capital.

 

Você pode citar Zaffaroni, Emanuel,

Grecco ou Aury.

Mas se acha que sabe muito.

Explica esse fato aqui:

Guilherme Paiva afirmou que, no  Brasil, a população carcerária feminina cresceu 567,4% de 2000 a 2014. E, minutos depois, encerrou sua apresentação. Na plateia, uma pessoa alertou a organização do evento para o erro na tradução. O número mencionado deveria estar errado.

O representante do governo mostrou os dados que comprovavam: o número de mulheres presas no Brasil passou de 5.601 (em 2000) para 37.380 (em 2014). Percentualmente, o número de presas correspondia a 3,2% da população carcerária. Em 2014, o percentual passou para 6,4%.

A interjeição foi geral: “Mas isso não é possível”. Guilherme Paiva concordou: “Realmente, não é possível”.

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NOTAS

[1] Quinzão: referência para Fuzil AR.

[2] Cargo inferior na hierarquia do tráfico. Quem vende as drogas na boca.

[3] Frase usada pelo Min. Joaquim Barbosa para interpelar o Min. Gilmar Mendes em um julgamento no STF.

IvanRibeiro

Ivan Morais Ribeiro

Advogado. Especialista em Ciências Criminais. Membro da Comissão de Direito Constitucional da OAB/DF.

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