ArtigosTribunal do Júri

O meu primeiro júri foi de mentira

Caro leitor, na coluna de hoje do Canal Ciências Criminais vou falar um pouco da experiência que tive com o meu primeiro Tribunal do Júri. Era época de graduação, por isso o julgamento foi de mentira, ou, como muitos chamam, foi um júri simulado. Ainda assim, asseguro que, mesmo sendo uma simulação, as emoções lá vividas foram tão intensas quanto na vida real.

Quando participei do Júri simulado, cursava o quarto ano da graduação. Até hoje não sei exatamente como fui parar entre um dos três advogados de defesa, pois na época vários outros colegas eram bem mais preparados do que eu.

Na verdade, não havia muitos colegas interessados em participar do julgamento. Não entendi muito bem por qual motivo, talvez por ser preciso falar em público, algo que para alguns só é feito em casos de extrema necessidade.

Quem participasse de forma direta no julgamento iria com uma nota 10 no bimestre. Não que eu estivesse precisando de um 9, mas confesso que isso serviu como um grande incentivo.

Lembro-me dos preparativos nos dias que antecediam o julgamento e a preocupação da Prof. Marlene, que se mostrava extremamente preocupada com a altura da minha voz no momento da defesa.

O júri foi um sucesso. Infelizmente, o acusado foi condenado com uma diferença de apenas 1 voto (4 x 3). Não vencemos o caso, mas ganhamos diversos elogios, mais até do que esperávamos. Talvez tenha sido nesse momento que, apesar da ausência de qualidades básicas (oratória, raciocínio rápido, postura e etc.), resolvi me enveredar pela arte do Tribunal do Júri.

Depois daquele júri simulado (de mentira), tomei coragem e enfrentei julgamentos reais. Hoje, posso dizer que trabalhei arduamente para inocentar uma pessoa. Por outro lado, também já saboreei o amargo gosto de algumas condenações.

O mais interessante é que no Tribunal do Júri não há empates. Os jurados somente podem decidir pela condenação ou absolvição. Também não há vencedores, pois a verdade é que nesse tipo de julgamento todos que de algum modo estão envolvidos saem perdendo alguma coisa. Uns evidentemente mais do que outros.

O que gostaria de passar com esse texto é uma mensagem que talvez possa ser entendida como de autoajuda, mas que pode fazer sentido para muitos: não desista daquilo que acredita, ainda que não seja sua vocação. A vocação pode ser suprida com uma boa dose de dedicação e esforço.

Pedro Wellington da Silva

Pós-graduando em Ciências Penais. Advogado.

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