A prisão ressocializa os criminosos? Saiba de onde vem a ideia de que a reclusão pode ‘corrigir’ infratores
A ideia de regeneração na prisão: uma história de 4.000 anos na Mesopotâmia
Por muito tempo, a sociedade vem debatendo sobre o verdadeiro propósito das prisões: punir ou reformar? Observando de perto, descobrimos que a ideia de transformação pessoal através dos rigores da reclusão não é nova. Vem de uma época muito anterior à nossa – cerca de 4.000 anos no passado, com um hino da Mesopotâmia antiga, no atual Iraque, onde uma deusa chamada Nungal era louvada por reger um tipo de prisão que visava regeneração.
O estudo sobre o papel da prisão na Mesopotâmia e o conceito de punição e regeneração apresentado em antigas obras literárias nos dá uma rica visão sobre o tratamento punitivo naquela época.
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O hino à Deusa Nungal: transformação através do sofrimento
Escrito por estudantes treinados como escribas por volta de 1.800 a.C., em Nippur, uma antiga cidade suméria, o “Hino a Nungal” detalha a experiência da prisão como um lugar de sofrimento, isolamento e dor, mas também como uma oportunidade para a transformação espiritual. Nungal, uma deusa da prisão, era vista como um ser de justiça inescapável, porém também de compaixão.
Segundo o hino, após um processo de lamentações, os prisioneiros poderiam ser purificados de seus pecados e reconciliados com seus deuses pessoais. Dessa forma, a passagem pela ‘casa de Nungal’, embora dolorosa, era vista como um caminho para a retificação e a purificação do espírito.
Prisão na Mesopotâmia: fato ou ficção?
A visão romântica de prisões apresentada no “Hino a Nungal” é mero mito ou reflete a realidade histórica? A verdade é que textos literários, como este, são limitados para fornecer uma compreensão completa do sistema de justiça da época. No entanto, os estudiosos sugerem que embora as prisões na Mesopotâmia antiga fossem usadas principalmente para deter suspeitos antes da punição, elas certamente implicavam sofrimentos físicos e emocionais para os detidos.
Além disso, evidências mostram que Nungal teve um papel simbólico em certas situações judiciais, como exemplos de juramentos feitos na presença de uma rede de arremesso, simbolizando a deusa e a justiça inescapável.
O conceito de regeneração: ontem e hoje
Apesar das diferenças significativas entre o sistema prisional de hoje e a interpretação do “Hino a Nungal”, não deixa de ser intrigante como a noção de sofrimento como um catalisador para a redenção tem raízes tão profundas. A ideia de que o sofrimento pode, de alguma forma, ser benéfico para os prisioneiros é uma que tem persistido ao longo da história, muitas vezes justificada como um ato de ‘compaixão’.
Esses antigos entendimentos são um lembrete de que memórias e mitos de punição e regeneração ecoam através dos séculos, moldando nossas visões contemporâneas sobre a finalidade e a eficácia das prisões.