NoticiasDireito Penal

Procurador não se cala e abre o jogo sobre tragédia de Brumadinho

Uma decisão transferiu o caso do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) para a Justiça Federal

O processo criminal que investiga as responsabilidades pela tragédia de Brumadinho (MG) em 2019 será julgado na esfera federal, embora não envolva crimes federais, de acordo com o procurador-geral de Justiça do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), Jarbas Soares Júnior. Isso ocorreu devido a uma decisão que transferiu o caso do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) para a Justiça Federal. Jarbas Soares Júnior expressou sua dificuldade em compreender essa decisão, destacando que nem o MPMG nem o Ministério Público Federal (MPF) imputaram crimes federais aos acusados. Ele também sugeriu que a defesa dos réus tem trabalhado para que o julgamento não chegue ao mérito.

“Espero que o Poder Judiciário leve esse processo à sua conclusão”, disse.

canalcienciascriminais.com.br procurador nao se cala e abre o jogo sobre tragedia de brumadinho brumadinho 1
Fonte: Folha-UOL

Leia mais:

Polícia Federal prende líder da milícia no Rio de Janeiro

PT faz pedido chocante para anular impeachment de Dilma Rousseff

O procurador-geral declara suas opiniões sobre o processo criminal envolvendo a tragédia de Brumadinho em um podcast chamado “Meu Ambiente”, lançado pelo MPMG para discutir questões ambientais com especialistas convidados. O primeiro episódio tratou das duas grandes tragédias de mineração ocorridas em Minas Gerais: a primeira em Mariana em 2015 e a segunda em Brumadinho em 2019. O podcast abordará novos temas a cada quinze dias. A tragédia em Brumadinho ocorreu quando uma barragem da mineradora Vale se rompeu, resultando na morte de 270 pessoas e causando graves impactos na bacia do Rio Paraopeba.

A federalização do processo ocorreu no ano passado, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que a competência para julgar o caso de Brumadinho era da Justiça Federal. Antes disso, o TJMG foi encarregado de julgar as responsabilidades pelo rompimento da barragem, com base na denúncia do MPMG, que acusou 16 pessoas de vários crimes ambientais e homicídio doloso qualificado. A Vale e a consultoria alemã Tüv Süd, que assinaram o laudo de estabilidade da barragem, também obtiveram resultados no processo. O procurador-geral do MPMG destacou que a defesa dos réus conseguiu levar o caso à Justiça Federal, o que foi difícil de aceitar para a promotoria.

“Me parece que a Justiça Estadual está mais familiarizada com crimes de júri. Hoje, se formos fazer um levantamento, tem 100 julgamentos de júri no estado. A Justiça Federal, em 10 anos, não tem 100 julgamentos no estado. Mas eu reconheço o papel da defesa. Ela tem que defender o seu cliente da melhor forma possível”, observou ele.

O processo na Justiça mineira estava em andamento de forma lenta, com os réus tendo a oportunidade de apresentar sua defesa apenas em setembro de 2021, mais de um ano após uma denúncia ter sido recebida. A discussão sobre a competência jurídica do caso paralisou o processo posteriormente. A transferência do julgamento para a Justiça Federal foi baseada na alegação de que o caso envolvia declarações falsas feitas às autoridades federais, violação da Política Nacional de Barragens e danos a sítios destruídos, que são patrimônios da União. No entanto, o MPF não concordou com essa interpretação, argumentando que não houve crimes federais envolvidos.

A Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos em Brumadinho (Avabrum) busca por justiça e responsabilização no caso

Apesar disso, o MPF, presente na esfera federal, decidiu reapresentar a denúncia original do MPMG, que foi aceita pela 2ª Vara Criminal Federal. Isso significa que o processo será julgado na Justiça Federal, mesmo sem acusações de crimes federais adicionais. A Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos em Brumadinho (Avabrum) também expressou sua preocupação com a busca por justiça e responsabilização no caso. Eles argumentaram que a falta de punições após a tragédia em Mariana, envolvendo a mineradora Samarco, contribuiu para a tragédia em Brumadinho.

canalcienciascriminais.com.br procurador nao se cala e abre o jogo sobre tragedia de brumadinho brumadinho
Fonte: Jornal Estado de Minas

A presidente da Avabrum, Alexandra Andrade, enfatizou a importância de responsabilizar os executivos e gestores das empresas envolvidas para evitar a impunidade. Ela também destacou o impacto emocional e psicológico contínuo nas famílias das vítimas, que enfrentam preconceitos e dificuldades com a dor da perda.

“A gente fica muito triste, porque as pessoas acham que porque teve indenização, o sofrimento acabou, a dor acabou, a saudade acabou. E isso não existe. Nós temos familiares que estão morrendo e as famílias contam que é de tristeza. Já morreram pais, mães, irmãos e filhos”.

Fonte: Agência Brasil

Daniele Kopp

Daniele Kopp é formada em Direito pela Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC) e Pós-graduada em Direito e Processo Penal pela mesma Universidade. Seu interesse e gosto pelo Direito Criminal vem desde o ingresso no curso de Direito. Por essa razão se especializou na área, através da Pós-Graduação e pesquisas na área das condenações pela Corte Interamericana de Direitos Humanos ao Sistema Carcerário Brasileiro, frente aos Direitos Humanos dos condenados. Atua como servidora na Defensoria Pública do RS.

Artigos relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo