Alta produção e audiência crescente: por que ‘true crime’ faz tanto sucesso no Brasil?
O interesse em documentários, reportagens e séries que exploram crimes reais não é algo recente, mas nos últimos tempos, tornou-se um fenômeno em constante expansão. Conhecido como “true crime”, esse gênero se consolida como um excelente mercado para criadores e está amplamente difundido em diversas plataformas de streaming.
O documentário ‘Isabella: O caso Nardoni’, da Netflix, por exemplo, estrou há duas semanas e só na semana passada acumulou mais de 9 milhões de horas vistas. Com base em dados do período, o filme figura em primeiro lugar entre os longas de língua não inglesa mais vistos da plataforma há duas semanas.
Outro documentário de enorme sucesso entre o público foi ‘Pacto Brutal: O Assassinato de Daniella Perez’, da HBO Max, que estreou no ano passado e após um mês da estreia se tornou a produção original mais assistida do serviço de streaming no Brasil.
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A fórmula de sucesso do True Crime
Tanto os documentários sobre o assassinato de Isabella Nardoni quanto o de Daniella Perez analisam a exploração de crimes que causaram grande comoção em todo o país. Essa é, justamente, a fórmula que impulsiona o sucesso desse gênero e faz com que a audiência já esteja garantida mesmo antes do início das produções, conforme explicado pelo professor Noel Carvalho, do Instituto de Artes da Universidade Estadual de Campinas (IA – Unicamp ).
Segundo o professor, o que desperta interesse nesses casos não é o crime em si, mas “a sua disseminação e popularização através dos meios de comunicação“. Os documentários revivem essa espetacularização, como se fosse uma reprodução para um público que já tem conhecimento do que será apresentado.
O pesquisador André Vilela Komatsu, do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (NEV – USP), também falou sobre o sucesso do gênero e disse que ele une três elementos que acabam por fidelizar o público: a curiosidade por casos extraordinários, a tendência em buscar explicações e a amplificação do caso na mídia.
Ainda de acordo com André, as questões que surgem nas produções de crime verdadeiro estão diretamente ligadas à sua busca por entretenimento. O pesquisador argumenta que essa ênfase em cativar o público pode resultar em “uma menor preocupação com a precisão e veracidade das informações”.
Interesse por crimes reais e sentimentos instintivos
Segundo a revista científica da BBC, ScienceFocus, o interesse em casos reais tem raízes em um instinto humano ancestral. Esse conceito, respaldado por psicólogos evolucionistas, argumenta que relatos de assassinatos e crimes graves têm acompanhado a história da humanidade desde tempos remotos, quando éramos sociedades de caçadores-coletores.
Por esse motivo, segundo a revista, é instintiva a obsessão por querer descobrir o “quem”, “o quê”, “quando” e “onde”. Há uma necessidade humana em descobrir o motivo por trás de pessoas que cometeram crimes como assassinatos e, assim, buscar proteção.
Confira abaixo o trailer de ‘Isabela: o caso Nardoni’
Fonte: Terra