Raiz do crime
Há uma trama emblemática no filme Curitiba Zero Grau, dirigido por Eloi Pires Ferreira (2010).
Numa noite fria de Curitiba, o catador de lixo sai bem cedo para trabalhar. Deixa em casa sua esposa e sua filha pequena, que tosse num princípio de resfriado ou gripe.
Ao voltar, sua filhinha tem febre, e tosse mais forte. O pai leva de madrugada – no zero grau curitibano – para o postinho de saúde, e dali para uma farmácia. Não há dinheiro suficiente para o remédio.
No dia seguinte, o pai cata mais papelão, mas a troca, ao fim do dia, lhe garante pouquíssimas moedas: para 1 Kg de papel, alguns centavos!
Ao retornar, a febre da filha aumentou. A tosse está mais intensa. Ainda não há dinheiro para o remédio. Na farmácia popular ou na do postinho, o tal remédio esgotou.
Terceiro dia de trabalho e frio intenso. Sai o pai de madrugada, volta de madrugada. Poucos centavos no bolso após percorrer a cidade inteira catando lixo.
A filha tosse mais forte, e chora, e treme de febre. Ainda não há dinheiro para o remédio.
Na casa simples de único cômodo o pai olha para a pia… e pega uma faca. E sai para a rua, a esmo.
Nem seria necessário continuar o filme.
Nem qualquer processo, seja qual for o crime das cenas imaginariamente seguintes.