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São Paulo e a contaminação do sistema prisional brasileiro (Parte 2)


Por Diorgeres de Assis Victorio


Ora este homem que transgrediu, ele é o que é; e para deixar de ser o que ele é, nós temos que refatorá-lo, reexperienciá-lo; nós temos para isso que abrir a sua fatoração, para conhecer quais são os componentes envolvidos nesta complexa estrutura de personalidade. Sem o que, acontece o que aconteceu com o Chico Picadinho; que era uma estrutura criminosa complexa, fechada e envernizada por fora; porque era um excelente preso; excelente preso com ótimo comportamento viveu quase 10 anos nos presídios; todos os diretores que o conheceram lhe deram as melhores notas e lhe fizeram a respeito as melhores referências; ao ponto dos próprios psiquiatras que o examinaram no fim, dizerem: – essa periculosidade está cessada completamente. Ele saiu um ano e pouco depois estava ali a fatoração dele todinha fechada; e, quando ele pôde dar as respostas às solicitações criminógenas, ele respondeu identicamente ao que fizera 10 anos atrás: – matou e esquartejou uma mulher, identicamente ao que fizera 10 anos antes; por que? Porque ele não tinha mudado nada. Ele era o mesmo, só que envernizado; sabia todas as regras do presídio direitinho; não infringia nenhuma – comportamento excelente, tudo: mas o homem por dentro era o mesmo.” (PIMENTEL, Manoel Pedro. Visão dos sistema penitenciário paulista à luz da penalogia moderna. p. 121-122)

Dando continuidade ao artigo anterior veremos mais dados sobre a política criminógena de São Paulo.

Julio Cesar Guedes de Moraes (Julinho Carambola): Em 06/03/1998 foi transferido da “Caverna” (local aonde o PCC nasceu) para Curitiba/PR e em 17/09/1998 foi transferido para o Centro de Observação Criminológica e Triagem de Curitiba permanecendo nessa Unidade até 18/09/1998. Já em 18/09/1998 foi transferido para a Prisão Provisória de Curitiba/PR permanecendo até 22/02/2000. Nessa data foi transferido para a Penitenciária de Dourados/MS onde permaneceu até 28/06/2000. Em 28/06/2000 foi para a Penitenciária de Londrina/PR e permaneceu até 12/10/2000. Foi transferido nessa data para o Estabelecimento Penal Segurança Máxima de Campo Grande/MS onde permaneceu até 28/12/2001, retornando para a Penitenciária de Dourados/MS e permanecendo na mesma até 07/01/2002. Retornou também ao Estabelecimento Penal Segurança Máxima de Campo Grande/MS nessa data e permaneceu na mesma até 22/02/2002, onde retornou ao Estado de São Paulo mais precisamente a Penitenciária “Dr Paulo Luciano de Campos” de Avaré.

Outro celerado que eu não poderia deixar de citar não só pelo fato de ser o “Chefe do PCC” é o Marco Willian Herbas Camacho (Marcola). Tive a oportunidade de ser zelador do Raio aonde o mesmo por um período de tempo muito curto (18/08/1999 a 23/08/1999) cumpriu uns dias de cadeia até ser transferido por razões óbvias. O mesmo possui diversas passagens pela “Caverna” (total de oito passagens) e em 16/02/2001 começou a rodar pelos Estados da União pondo em prática a política criminógena de São Paulo e assim nessa data foi transferido da Penitenciária do Estado em São Paulo para Ijuí/RS permanecendo até 05/03/2001, onde foi transferido para Brasília/DF ficando lá até 08/02/2002, onde foi removido para Aparecida de Goiânia/GO ficando até 15/02/2002, retornando a Brasília nessa data e permanecendo até 23/02/2002, onde foi transferido a Penitenciária de Alta Segurança de Charqueada/RS permanecendo na mesma até 17/04/2002. Nessa data retornou ao Estado de São Paulo mais precisamente a Penitenciária “Dr Sebastião Martins Silveira” de Araraquara.

Deixei de fora das análises das movimentações alguns fundadores do PCC e presos de grande poder (teoria do domínio do fato no concurso de pessoas) dentro dos presídios, como por exemplo, o Vander Eduardo Ferreira (Cara Gorda); Isaías Moreira do Nascimento (Isaias Esquisito); Antonio Carlos dos Santos (Bicho Feio); Ademar dos Santos (Dafé) e Antonio Carlos Roberto da Paixão (Paixão) dentre muitos outros, mas essa “escolha” se deu pelo fato das transferências dos mesmos não serem tão relevantes para a sistemática desse artigo.

Dou por encerrado o artigo dessa semana. O fato do mesmo ser curto é proposital, pois não posso e não devo misturar as explicações quanto ao ‘Sistema de Contaminação do Sistema Prisional Brasileiro, que serão feitas através das movimentações e dos Estatutos das facções e organizações criminosas. Pelo que eu pude analisar pelas leituras de diversos livros, artigos, entrevistas e etc. somente eu tive a oportunidade de realizar essa análise por essa ótica. Essa explicação será feita em um artigo independente, pois entendo não ser recomendável iniciar a explicação nesse artigo e continuar o mesmo na próxima semana.

_Colunistas-Diorgeres

Foto: João Wainer

Diorgeres de Assis Victorio

Agente Penitenciário. Aluno do Curso Intensivo válido para o Doutorado em Direito Penal da Universidade de Buenos Aires. Penitenciarista. Pesquisador

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