Saulo, ex-diretor da Abin repreende deputada em audiência de CPI; entenda
Deputada expõe diálogos da quebra de sigilo
Paula Belmonte (partido Cidadania), Deputada distrital, utilizou seu tempo de discurso na Comissão Parlamentar de Inquérito, na manhã de hoje, quinta-feira, 26 de outubro, para tornar públicos diálogos adquiridos por meio da quebra de sigilo do celular de Saulo Moura da Cunha, antigo diretor adjunto da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
A parlamentar acabou sendo repreendida tanto pelo depoente quanto pelo presidente da CPI, o também deputado Chico Vigilante (PT).
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“Isso se trata da minha quebra de sigilo telefônico que foi compartilhada, de maneira confidencial, com a CPMI”, declarou Saulo. O ex-diretor da agência se refere à comissão que também investigava os atos contrários à democracia em 8 de janeiro, mas no Congresso Nacional.
O depoimento de Saulo
Saulo da Cunha ocupava o cargo de diretor adjunto da Abin no dia dos incidentes nas sedes dos Três Poderes em Brasília.
Quando questionado sobre as falhas que levaram a esses eventos, o depoente optou por não emitir juízos a respeito de outras organizações, porém, ele defendeu a Agência Brasileira de Inteligência e ressaltou que a SSP-DF (Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal) tinha a autoridade para tomar decisões com base nas informações recebidas.
“A missão da Abin, em termos de inteligência, é apoiar o processo decisório. Nesse caso, a autoridade de decisão estava nas mãos das forças de segurança do Distrito Federal. É evidente que os eventos falam por si só: ocorreu uma falha. Caso contrário, não teríamos assistido à depredação das sedes dos Três Poderes”, afirmou Saulo.
A controvérsia da operação última milha e a espionagem
Saulo também foi questionado sobre acontecimentos recentes relacionados à Abin, incluindo aqueles revelados pela Operação Última Milha, realizada pela Polícia Federal. Essa operação visou funcionários da agência que usavam um programa para monitorar celulares de forma ilegal.
O ex-diretor explicou que soube da existência desse software apenas por meio da mídia. “Esse dispositivo, conforme também noticiado pela imprensa, foi desativado em 2021. Quando cheguei à Abin, havia uma auditoria em andamento, sigilosa, cujo conteúdo eu não tive acesso, que estava investigando esse fato. Posteriormente, de acordo com relatos da imprensa, uma sindicância foi aberta. Durante o meu período de gestão, esse instrumento não foi utilizado. Eu nunca vi esse dispositivo”, enfatizou Saulo da Cunha.
Depoimento no Congresso Nacional
Saulo é um funcionário de carreira da Abin há 24 anos. Ele também prestou depoimento na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) sobre os eventos de 8 de janeiro de 2023, no Congresso Nacional. Perante os deputados federais e senadores, ele afirmou que seu trabalho visou “demonstrar que a Abin cumpriu suas obrigações funcionais e sua missão institucional” em relação aos eventos contrários à democracia e que, após esses acontecimentos, a agência elaborou 10 relatórios.
Durante seu depoimento na CPMI, o antigo diretor adjunto da Abin também contradisse a declaração do então chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Gonçalves Dias, de que o militar não havia sido informado sobre o risco de confrontos.
Saulo da Cunha acrescentou que os primeiros relatórios foram enviados ao general pela manhã de 8 de janeiro, por meio de redes sociais. “Elaborei dois relatórios. O primeiro estava em uma planilha que continha alertas enviados pela Abin a grupos e também alertas enviados por mim, pessoalmente, do meu telefone, para o ministro-chefe do GSI [Gonçalves Dias]”, afirmou.
“Entreguei essa planilha ao ministro, e ele ordenou que seu nome fosse retirado dali, uma vez que ele não era o destinatário oficial daquelas mensagens. [Ele ordenou] que apenas as mensagens encaminhadas para os grupos de WhatsApp fossem mantidas ali. Ele deu a ordem, e eu a segui”, completou o funcionário de carreira da Abin.