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Sem dor, sem ganho: a busca insensata pelo sonho americano

A busca pelo sonho americano e a luta pela esperança de um lugar ao sol, ao lado doce do consumo e das belas propagandas que fazem o que delas se espera: “entregue-se ao mundo do consumo!”; é retratada no filme Sem dor, sem ganho de Michael Bay, de 2013.

O diretor não poupou sarcásticas críticas ao bárbaro crime ocorrido em 1994, em especial aos autores da atrocidade que vitimou duas pessoas fatalmente, e ainda, o sequestro e tortura de um empresário local.

Com a finalidade de roubar o dinheiro, a casa e bens dessas pessoas, os três sequestradores uniram-se.

A gangue de halterofilistas, como ficou conhecida, buscava o american dream custe o que custar, em uma Miami que aflorava consumo com seus ricos carros, barcos e lanchas, belas mansões e mais: a difundida propaganda do consumismo que crescia em uma época que se intercalava ao fim de uma guerra fria e no início de um novo paradigma tecnológico.

A história contada à polícia pelo primeiro sequestrado pela gangue e que saiu com vida devido as trapalhadas dos vilões, foi tão surreal que a princípio nem a própria polícia acreditou que pudesse ser verdade.

Por esse motivo, a vítima contratou um detetive particular, interpretado por Ed Harris no filme de Bay, para seguir as grandiosas pistas deixadas pelos atrapalhados bandidos.

Mesmo tendo sido rodado com um baixo orçamento considerando as estripulias do diretor em sua história no cinema e tendo diálogos que evidenciavam a falta de intelecto dos criminosos, o filme Sem dor, sem ganho faz pensar: como pode ser essa uma história real?

Daniel Lugo e Adrian Doorbal foram sentenciados à pena de morte. Lugo recorreu recentemente pedindo o perdão para a Suprema Corte Americana e seu pedido está no momento pendente; mas ainda que consiga algum efeito positivo, este seria a reformulação do corredor da morte para a prisão perpétua.

Doorbal aguarda o perdão do governador e faz parte dos sentenciados à espera na milha verde de Miami.

O júri levou apenas 14 minutos para sentenciar os acusados. Paul Doyle, por ter ajudado nas investigações, passou um longo período em uma prisão de segurança máxima e hoje está em liberdade condicional.

O intrigante em toda essa história foi o desmembramento dos corpos e a tentativa de ocultação de cadáver, fracassada obviamente.

O requinte de crueldade e sarcasmo dos halterofilistas ao decepar as partes dos corpos de suas vitimas para que não fossem identificadas, e após isso, o descarte em tambores em um lago muito frequentado em Miami deixou a investigação atônita.

Como uma gangue consegue agir de forma tão fria, calculista e psicótica ao queimar os polegares das vitimas e estraçalhar as arcadas dentárias consegue também, desovar seus restos mortais em um local de fácil acesso e de passeios turísticos?

De qualquer forma, o caso marca uma possibilidade para o judiciário, que pela primeira vez utilizou o número das próteses de silicone da vítima para fazer o seu reconhecimento.

Essa perspectiva nunca havia sido utilizada até então gerando oportunidades para o reconhecimento de corpos, aceita pela Corte Norte Americana.

O filme, é claro, possui os exageros que somente Michael Bay é capaz. Mas a verdade é uma só: sem dor, sem ganho.


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Iverson Kech Ferreira

Mestre em Direito. Professor. Advogado.

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