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Serial killers: um breve histórico

Serial killers: um breve histórico

No que tange ao aparecimento dos matadores em série, os tipos de atrocidades cometidas por eles têm registros em todas as épocas e lugares do mundo, apenas não tinham uma nomeação definida.

Vlad (1431), também conhecido como Conde Drácula – empalou diversas pessoas, Gilles de Rais (1440) – matou 140 crianças, Erzébet Bathory (1560) – matou 650 mulheres, Henri-Désiré Landru (1922), Vampiro de Düsseldorf (1929), Jack, o Estripador (1988), entre outros, são os precursores históricos do serial killer contemporâneo.

São matadores em série de prostitutas, mulheres solteiras e de crianças. Schechter (2013) nos lembra que em todos os tempos “qualquer um podia escapar impune dos assassinatos em série, desde que estivesse atacando pessoas ‘insignificantes’. ” (p.150).

No entanto, nas estatísticas de criminalidade, eles representariam apenas uma ínfima porcentagem, abarcando os crimes com mais notoriedade, que inflamam os jornais e as revistas com fatos e entrevistas e que deixam a população perplexa e curiosa.

O termo “serial killer” foi cunhado pelo agente especial do Federal Bureau of Investigation (FBI), Robert K. Ressler, nos anos 1970, devido a sua vasta experiência de entrevistas com vários assassinos em série, esse percurso foi bem demonstrado no livro Mindhunter e série televisiva com mesmo nome.

Em companhia de Jonh Douglas e Ann Burgess, o agente se tornou especialista e pioneiro na elaboração de perfis psicológicos, na identificação e na captura de criminosos.

Burgess (2006) menciona a diferenciação entre os assassinos que matam mais de três (ou quatro) vítimas, – existe um manual de classificação do FBI (Federal Bureau of Investigation) que especifica estes tipos de assassinos. Além da denominação “assassino em série”, identifica-se os mass murders (assassinos em massa) e os spree killer (sem tradução para a língua portuguesa) e um dos critérios que os diferenciam é o período de tempo entre as mortes.

No início, o FBI pesquisava sobre o papel das fantasias para entender melhor os crimes violentos, e afirma que através dessa análise foi possível classificar e distinguir os criminosos, ajudando na criação das tipologias. O FBI classifica os tipos de criminosos em três: organizados, desorganizados e mistos (que seria uma mistura dos outros dois tipos).

O tipo Organizado denota que o ofensor seja um indivíduo organizado, socialmente competente, tem formação acadêmica e competência profissional, a vítima geralmente é desconhecida, tem controle da situação (vítima controlada por ele), tem planejamento e o local de crime é organizado, e o risco de fuga é calculado.

O tipo Desorganizado é socialmente inadequado, possui baixa inteligência, a vítima e o local do crime são conhecidos, a cena de crime demonstra espontaneidade, local desorganizado, não tem competência para planejar seus crimes, por isso tendem a ocorrer na zona de conforto do ofensor, presença de violência súbita e poucos (ou nenhum) controle da vítima.

Holmes e DeBurger (1988) fornecem outra tipologia entre os assassinos em série, também muito utilizada pelos perfiladores. São divididos em quatro tipos:

  1. Os Visionários – matam porque sofrem de psicose (tem alucinações visuais e escutam vozes, dando ordens para matar);
  2. Os Missionários – matam para eliminar um grupo de pessoas consideradas indesejáveis e não possuem motivação sexual assassinam prostitutas, meninos em situação de ruas e judeus, geralmente minorias);
  3. Os Hedonistas – estes vivem um estilo de vida desviante que se entrelaçam com o assassinato (são assassinos de luxúria/emoção orientados pelo lucro); e, por último,
  4. Os assassinatos por Poder/Controle – querem o domínio total das vítimas, planejam os crimes em detalhes, obtendo prazer na tortura e na morte.

Alguns psicanalistas também tentam dar nomeações a esse tipo de crime. Susini (2006) descreve a trajetória do serial killer como um “drama”, e nós, o público, acompanhamos a tragédia, impotentes e emocionados. A história é representada pela própria vida do criminoso, onde é escrita e representada por ele mesmo e, sua assinatura é feita com letras de sangue.

A teoria lacaniana, faz elaborações sobre os crimes através dos registros (Real, Imaginário e Simbólico). Motta (2017) fez uma distinção entre os crimes de utilidade e os crimes de gozo (registro do Real), baseada nas indicações de Miller – psicanalista francês.

Nessa elaboração, os crimes de utilidade são apenas um meio para atingir uma finalidade útil, como dinheiro ou poder, ou seja, um motivo racional. Ao passo que os crimes de gozo são denominados como um teatro particular da pulsão, uma vez que a crueldade toca o que se tem de inumano, desse modo, não tem utilidade alguma – nos quais entrariam os assassinos em série.

Enfim, há diferenças sutis entre as abordagens e o que irá diferenciá-las será na aplicabilidade e na sua finalidade. O método do FBI citado, tem seus fundamentos básicos fáceis de serem instruídos, além do mais, não precisa de formação específica em psicologia ou em criminologia. E a psicanálise manifesta-se na particularidade, é no caso a caso que ela poderá transmitir o funcionamento do sujeito.


REFERÊNCIAS

BURGESS, A.W. Mass, Spree and Serial Homicide. In: DOUGLAS, J. E. et al. Crime Classification Manual. A Standart System For Investigating and Classifying Violent Crimes. Second Edition. San Francisco: PB Printing, 2006.

HOLMES, R.M.; DEBURGER, J.; Serial Murder. Michigan: Sage Publications, 1988.

MOTTA, M.B. O Crime à Luz da Psicanálise Lacaniana. 1ª ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2017.

SCHECHTER, H. Serial Killers – Anatomia do mal. Rio de Janeiro: DarkSide Books, 2013.

SUSINI, Marie-Laure. O Autor do Crime Perverso. Rio de Janeiro: Companhia de Freud, 2006.

Clarice Santoro

Especialista em Psicanálise, Saúde Mental e Criminal Profiling. Psicóloga.

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