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Serial killers: por trás dos seriados televisivos


Por Henrique Saibro


Não são poucos os fãs de séries policiais investigativas. Alguns passam o dia inteiro vibrados assistindo seriados do Netflix e em canais de TV. CSI, Law & Order, Dexter, Criminal Minds, The Mentalist, White Collar e Bones são algumas das séries que atiçam a imaginação do telespectador/internauta a ponto de torná-los não apenas simples expectadores, senão, também, investigadores.

Mas esses seriados, além de glamourizarem o mundo do crime – é dizer, ao invés de os investigadores utilizarem jalecos sujos e malcheirosos (como, no mundo real, usam), vestem ternos gizados e acinturados –, não informam aos espectadores os conceitos mais básicos quando o assunto é assassinato e psicopatia: as definições de um homicídio em série, em massa e relâmpago; aliás, muitas vezes confundem um com outro.

Esse artigo irá sanar a omissão quanto a tais conceitos. Quanto ao excesso de glamour num ramo nada elegante – ao menos que você ache charmoso cadáveres exalando odores insuportáveis e que ternos italianos se adequem a investigações forenses –, indico a leitura do livro “Nunca coloque a mão de um cadáver na boca”, de Dana Kollmann. A obra revela as investigações criminais por trás da fita amarela de isolamento, demonstrando, de fato, como é o cotidiano de um CSI. Desculpem-me se, após a leitura, acabe com o sonho de muitos em se tornarem peritos criminais…

Pois bem. O Assassinato em série (serial killer) é um delito sexual. Seria dizer, portanto, que um estuprador é um serial killer? Não necessariamente. A relação do homicida em série com distúrbios sexuais não precisa ter ligação com práticas sexuais. A conexão diz respeito aos seus impulsos.

Vamos contextualizar. Pessoas que não praticam sexo por muito tempo e não utilizam de nenhum recurso para a vontade diminuir acabam ficando ansiosas. A excitação vem, naturalmente, com mais frequência. Caso escolham um parceiro sexual, esse impulso libidinoso, ao menos por um tempo, sofre uma diminuição considerável.

Mas qual a relação com o serial killer? SCHECHTER explica (2013, p. 18):

De forma análoga, o serial killer passa seu tempo fantasiando sobre dominação, tortura e assassinato. Consequentemente, ele fica excitado por sangue. Quando seus desejos distorcidos tornam-se fortes demais para resistir, sai em busca de vítimas incautas. Sua excitação atinge o clímax com o sofrimento e a morte da vítima. Depois, ele experimenta um período de “calmaria”.

Daí porque os assassinos em série tentam não ser capturados, a fim de seguir com suas práticas psicopáticas e poder deleitar-se, por mais tempo possível, dos prazeres de suas atrocidades.

Igualmente, vimos no encontro anterior que para a National Institutes of Justice um serial killer é aquele que comete de dois ou mais assassinatos, cometidos como eventos separados, podendo ocorrer durante um período de tempo que varia de horas a anos. Essa conceituação é tida pelos especialistas como mais fidedigna ao fenômeno inclusive em relação à escolhida pelo FBI.

Já o assassino em massa, por mais que contemple, assim como o em série, homicídios múltiplos, é tido como uma “bomba-relógio humana” – ao contrário do serial killer que é considerado um predador. É aquele “cuja vida saiu dos trilhos” e que “explode em um surto de violência devastadora” (SCHECHTER, 2011, p. 19).

Podemos citar como exemplo de assassino em massa, se confirmadas as suspeitas, o piloto alemão Andreas Lubitz, que, tomado por uma gravíssima depressão, teria derrubado propositalmente o avião em que atuava como copiloto, levando consigo mais 150 vítimas. Em suma, “se assassinato em série é, essencialmente, um crime sexual, o assassinato em massa é quase sempre um ato suicida” (idem, ibdem).

Por fim, o assassino relâmpago, assim como o em massa, é alguém tão alienado e atormentado que não vê mais motivo para viver. Tanto é que sempre optam por morrer do que a se render, ou deliberadamente se entregam às autoridades sabendo que sofrerão pena de morte. São dois os motivos que levam o assassino relâmpago a cometer uma chacina: vingança contra o mundo e um desejo de mostrar que é alguém que mereça consideração (SCHECHTER, op. cit., p. 20).

Até aí não há grande diferença quanto ao homicida em massa. O que tecnicamente lhe diferencia é o seu movimento. “Enquanto o assassino em massa mata em um só lugar, o assassino relâmpago se desloca de um lugar a outro matando no percurso” (idem, ibdem). Daí que muitos definem o homicida relâmpago em assassino em massa itinerante.

O melhor exemplo desse tipo de assassino é a figura de Howard Unruh, um ex-soldado americano que, em 1949, percorreu sua calma vizinhança em New Jersey atirando metodicamente em todos que via pelo caminho. A história é bem contada no livro “Serial Killers: anatomia do mal”, do autor aqui citado.

Eis, portanto, as principais diferenças entre esses assassinos. Por mais que tenham distinções no modus operandi, ambos possuem o mesmo afã: matar, matar e matar. Sempre recomendo que, além de seriados policiais, os interessados pelo tema também leiam livros sobre investigação criminal e psicopatia. O mundo deve ser visto como ele é; para além das câmeras cinematográficas.


REFERÊNCIAS

SCHECHTER, Harold. Serial Killers: anatomia do mal. Rio de Janeiro: DarkSide Books, 2013.

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Henrique Saibro

Advogado. Mestrando em Ciências Criminais. Especialista em Ciências Penais. Especialista em Compliance.

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