Seu Jorge fala sobre episódio de racismo em Porto Alegre: ‘uma violência que não cabe mais’
O cantor Seu Jorge se manifestou sobre o episódio de racismo que foi vítima no clube Grêmio Náutico União, em Porto Alegre. Seu Jorge terminou o show sob vais e xingamentos racistas. Sobre o caso, o cantor explicou:
“Eu fui, entrei, fiz o meu concerto. Em um determinado momento, fiz uma fala sobre a infância, adolescência. Entendo que, quando a gente trata da redução da maioridade penal, o foco atingido é a população jovem negra. Elisa Lucinda falou uma coisa muito interessante: “ninguém confunde a Eliana com a Xuxa, uma Grazi Massafera com a Gabriela Prioli, sabe? Mas a gente vai preso confundido. É morto confundido.” Depois, eu saí do meu concerto e eu percebi vaias. O que é do jogo, né?
No entanto, não foram apenas as vaias que marcaram o show do cantor, mas também comentários racistas e até mesmo imitações de macacos. Seu Jorge tomou conhecimento delas através de vídeos que começaram a circular na internet sobre o ocorrido.
Fã de Seu Jorge conta a sua versão
Um dos fãs do artista que estava presente no evento disse:
“Estava tudo normal. O show maravilhoso. E aí ele apresentou o Pedrinho (da Serrinha) e falou então sobre a juventude negra, sobre o negro da favela e que ele é contra a redução da maioridade penal. Nesse momento, as pessoas se transformaram. Foi um show de horrores, uma grosseria”
Após o ocorrido, três pessoas compareceram à delegacia especializada em combate à intolerância de Porto Alegre para denunciar o ocorrido. Uma delas afirmou:
“pessoas que estavam do lado direito da pista começaram a se exaltar com as falas do cantor e proferiram injúrias raciais, vaias e xingamentos. Com imitação de som de macaco e xingamento de macaco.”
Dois dias depois do show, o presidente do Grêmio Náutico União, Paulo Bing, disse em um aplicativo de mensagem que o fato ocorrido com seu Jorge tinha acontecido porque ele fez gestos políticos durante o show, e que sem seu contrato havia uma vedação expressa sobre “manifestações ou opiniões de cunho político, partidário, racial, religioso ou ideológico, inclusive de gênero”.
Sobre a alegação de Paulo Bing, Seu Jorge rebate:
“Olha, não existe justificativa para o racismo. É exatamente disso que nós estamos tratando. Estamos tratando de violência. Racismo, não. Racismo, não. Simples assim. Eu acho que não estamos tratando de política aqui. Estamos tratando de uma violência que não cabe mais no Brasil. A justificativa para o racismo não existe, assim como o racismo não deveria existir.”
Em nota, o clube do Grêmio se manifestou dizendo que se as investigações comprovarem que algum dos envolvidos tem relação com o crime, será expulso do quadro de sócios.
Seu Jorge conclui falando sobre a necessidade do combate ao racismo:
“Devemos todos combater o racismo. Eu sou um homem negro brasileiro. Eu sou um africano nascido no Brasil. Me sinto assim, me reconheço assim. E tenho um amor muito grande pelo meu país, pela minha nação, mas entendo que existe um atraso e uma dívida muito grande do Brasil para com o povo afrodescendente”
Fonte: G1