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Sobre Cleidenilson, pelourinhos e linchamentos

Por Bruno Espiñeira Lemos

O estandarte do sanatório geral segue passando, Chico. Somou-se a tantos outros atos da turba enfurecida que tem banalizado os linchamentos em praça pública no Brasil (a Argentina também vive esse problema), o “tribunal popular” que acusou, julgou e condenou à MORTE cruel o réu das ruas Cleidenilson. A foto dantesca foi estampada em todos os jornais e veículos de comunicação conhecidos e anônimos.

O que nos resta? Analisar sociologicamente tais acontecimentos à luz de um embrutecimento da coletividade cansada com a intensidade da violência urbana? Uma violência justificando outra?

O poeta Renato Russo afirmava que “vivemos num mundo doente”. Vivemos? Antes ainda tentávamos chorar. Hoje a indiferença diante de tais atrocidades nos anestesia e sequer nos comove. Banalizamos mais uma vez o mal. O mal praticado por Cledenilson? Não. Tal qual os nazistas de outrora estamos banalizando o nosso “mal” de cada dia.

A cena do Cledenilson amarrado e alquebrado no poste nos remete a um Pelourinho revisitado diante de um corpo acessível (o ladrão da esquina encontra-se à mão para tortura e morte pelos transeuntes), o que não se pode dizer dos “ladrões” de colarinho branco, estes não nos são acessíveis.

Portanto, seguirão pagando os “Cledenilsons” diante do nosso frenesi coletivo de “horda primitiva”, que se delicia com sua carne fresca e mal nutrida, pois os outros inacessíveis, estes seguirão torturados pelos “Moros” da vida com a nossa torcida cada dia mais sedenta e punitivista.

_Colunistas-BrunoLemos

Crédito para foto (post): Biné Morais

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