ArtigosCriminologia Penitenciária

Se você tem ou quer ter tatuagem, não deixe de ler esse artigo!

Esse artigo surgiu em virtude de um passeio que eu estava fazendo na cidade de Taubaté interior de São Paulo, município onde surgiu o PCC. Lá, estava eu dano um “pião” (rolê da cadeia) com um outro agente, quando, de repente, vi um jovem (por volta de uns 25 anos) com uma tatuagem no antebraço.

No ato, comentei com o amigo sobre a tal tattoo e concordamos que talvez ele tenha a achado “bonita” sem saber quais os problemas que teria caso fosse preso algum dia.

Por isso, escolhi esse tema “tatuagens” para tratar nesse artigo. Usarei as imagens das tatuagens e mostrarei seus significados. Algumas tatuagens me fazem recordar de algum acontecimento na prisão e mencionarei aqui. Quero deixar claro que não tenho preconceito de quem tem tatuagens (até porque tenho seis).

Vamos à primeira tatuagem:

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Ao verificarmos a tatuagem acima, observamos que ela representa, para quem não conhece o cárcere, uma homenagem a mãe. Mas seria só isso realmente?

Não. Essa tatuagem na cadeia representa aquele que praticou crime(s) sexual(is), o famoso duque 13 (213), menção ao artigo 213 do Código Penal, também conhecido como “Jack”. Na verdade, essa é tal tatuagem que eu vi com um colega em Taubaté. Mas será que ele, quando “a fez”, sabia bem o que ela pode gerar se ele “cair” em cana?

Hoje vivemos em uma situação que a ânsia punitiva é tão grande, gerando o encarceramento em massa e isso não posso me negar a dizer, pois negar o óbvio é sinal de imbecilidade.

Preocupo-me em ser encarcerado, pois dentro do cárcere já constatei pessoa cumprindo pena em regime fechado por não possuir carteira de habilitação. Sei que muitos devem estar se perguntando: “mas como isso se a pena é de detenção, de seis meses a um ano?” Um dia contarei essa história em um artigo.

Mas, voltando à tatuagem, alguém acredita que os presos no cárcere vão acreditar se ele disser que é uma “tatoo” de rua? Lógico que não: vai ser vítima de pederastia na cadeia.

Vai virar “garoto” (homossexual) na cadeia e isso vai ser “na marra”. Já vi casos em que os presos que saiam do Anexo de Taubaté, local de nascimento do PCC, chegavam em mim e me diziam:

“Nossa, mestre que ‘garoto’ bonito, branquinho, ‘zóio’ claro! ‘Paga’ (põe) ele na nossa cela!”

Davam risada logo em seguida.

Outra tatuagem que é conhecida como marca (rotulagem) de homossexual na cadeia é a pinta verde no rosto. Essa tatuagem me faz recordar de uma outra história no cárcere. Lá estava eu trabalhando quando o “gaioleiro” libera um preso abrindo o portão e vem se apresentar a mim. Olhei em seu rosto e vi a tal pinta verde.

Pensei comigo: “mas como que os guardas lá de baixo mandam um preso com uma tatuagem dessa parar aqui?” Perguntei de onde ele estava vindo e ele me informou que do JK de Taubaté (Cadeia Pública). Como eu já sabia que ele ia “pagar” pela tal pinta, perguntei para ele:

“E essa pinta aí?”

Rapidamente me respondeu:

“Sou cigano!”

Expliquei para ele o que significa aquela pinta na cadeia e se ele estava disposto a tentar arrumar um “barraco” (cela). Ele me disse:

“Sem problema”.

Não teve que dar muito “pião na cadeia” (andar). Os presos já foram para cima do mesmo querendo “sumariar” a tal pinta. Passado alguns minutos me disse que precisava sair urgente do Raio II, porque a população carcerária não o tinha aceitado. Pedi para liberá-lo rapidamente, pois temia que “subissem” o gás dele (matassem).

Quis tentar no Raio III e já adiantei a ele que ia acontecer a mesma coisa. E o fato se repetiu. Realmente os ciganos têm por tradição fazer essa pinta no rosto, mas a população carcerária vai acreditar nisso? Impossível!

Existem outras tatuagens de estupradores como a do São Sebastião (que também indica a vontade de sair do cárcere):

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Borboletas também têm o mesmo significado:

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Dois pontos tatuados na mão indicam o tipo de criminoso. Resumidamente, os pontos na mão têm o seguinte significado:

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Quanto aos pontos na mão, me recordo de um preso que tinha feito as marcas referente a ser chefe de quadrilha, mas era na verdade um furtador. Nem preciso dizer o que aconteceu com ele quando os presos descobriram que ele tentou enganar o “crime”, não é?

Nos próximos artigos darei continuidade ao estudo da Criminologia Penitenciária, voltada à análise das “tatuagens de cadeia”.

Diorgeres de Assis Victorio

Agente Penitenciário. Aluno do Curso Intensivo válido para o Doutorado em Direito Penal da Universidade de Buenos Aires. Penitenciarista. Pesquisador

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