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Tempo e processo penal

Tempo e processo penal

Por João Vicente Rodrigues e Jader Marques

Tempo, tempo, tempo, entro num acordo contigo. (Caetano Veloso).

Tempo, tempo, tempo…vivemos a era da informação. 

Tempo e processo penal

Nunca houve tanta carga informativa à disposição da raça humana. Ela chega até nós de todas as formas, por todos os lados. Redes sociais, telejornais tradicionais, de forma direta ou indireta, o fato é que ela chega desde o momento em que abrimos os olhos, logo pela manhã. 

Parece que há uma obsessão pela informação, como se tivéssemos que saber tudo a todo tempo. O ritmo frenético dos dias atuais pede uma vida em estado de urgência. 

Tal comportamento se reflete no processo penal, no qual juízes, promotores, advogados, serventuários já não olham nos olhos uns dos outros, mas não por medo, arrogância ou desrespeito e sim, por estarem no “modo automatizado” de comportamento, apenas fazendo o que lhes é destinado fazer, de forma repetida e mecânica. 

Quem lida, hoje, com o processo, não tem tempo. As pessoas não têm tempo para fazer o processo ‘andar’, para observar o todo, para esmiuçar toda a prova, para analisar com calma cada detalhe. O “modo automatizado” toma conta do espaço e leva a calma, leva a paciência, leva a serenidade. O que não for célere, não cabe no espaço. 

Em alta velocidade, não conseguimos perceber a nuance da dor, o tom do sofrimento, a vibração da angústia do ser demasiado humano. Não olvidemos da leveza, simplicidade e verdade do ensinamento do nosso saudoso Braulio Marques, quando nos dizia: “o direito tem vida, o direito tem cor, o direito tem alma…” (veja AQUI). Sim, o direito tem tudo isso e é indispensável deixar o tempo fazer seu trabalho para que a vida humana, cujo destino está em jogo no processo, possa aparecer em sua máxima expressão. 

Vemos, ouvimos e lemos

Não podemos ignorar

Vemos, ouvimos e lemos

Não podemos ignorar.

(Cantada de Paz, Sophia de Mello Breyner Andresen, 1966)

Necessitamos de tempo, de pausa, de ócio. Sim, fazer nada. Necessitamos dar tempo ao tempo, pois, muitas vezes, a resposta apenas torna-se possível longe da pressa. Muitas vezes, o que temos que fazer é isso: apenas não fazer.

Entre a urgência dos novos tempos e a temperança indispensável para a vida virtuosa, vivemos dos ensinamentos de um passado interminável que nos encarrega do desafio de mantermos a coluna ereta, pois o futuro, que nunca chega, reclama dos destemidos a coragem para mudar o amanhã indigesto que está posto. 

Tenha tempo para amar e seja um errante (caminhante) que não erra.

JV e JM


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