Uma noite de crime
Uma noite de crime
Marcos, Rato e Palito eram moradores de rua. Viviam no centro da capital, onde passavam dia e noite acomodados em marquises de bancos e lojas: um canto improvisado com papelão e jornal, vários outros mendigos, condições insalubres…
Comiam, bebiam, gritavam e lá estavam a praticamente qualquer hora do dia. Poucas vezes não eram exatamente ali vistos cantarolando, conversando, rindo, bebendo, discutindo, xingando, dormindo.
A cada um deles se dirigia uma triste história de vida. Álcool, drogas e outras patologias psiquiátricas estavam no cerne das três histórias. O abandono de um lar já dilacerado – se e quando havia um lar – era consequência lógica.
Seu cotidiano agora não era tão diferente de como era antes.
Noite dessas, completamente embriagados, os três discutiram – como, aliás, faziam praticamente todas as noites. Marcos quebrou a garrafa de pinga e estocou-a no pescoço de Palito, matando-o no mesmo minuto. Gritaria, choradeira, polícia, prisão, inquérito e ação penal.
Marcos, mendigo que era, sem saber que diabos significava ação penal ou prisão preventiva, foi a júri “sem defesa”. (Afinal, convenhamos: o Estado e o Direito não se importam tanto assim com os mendigos; importavam-se mais nos tempos das galés, quando precisamente essa era a pena para o “crime” de mendicância).
Não sabia nem responder ao interrogatório. Dizia que “não matou”, ou até que “não foi ele” (“- Não fui eu!”) – embora essa era a cena mais que comprovada do crime: garrafa e sangue nas mãos, sangue na roupa, testemunho de Rato e de outros mendigos e transeuntes que por lá passavam no exato instante da briga.
Por homicídio, Marcos foi condenado a cumprir pena em regime fechado. Já estava sendo transferido para o sistema penitenciário estadual: cela pequena, muitos presos, condições insalubres…
Seu cotidiano agora não era tão diferente de como era antes.
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