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Você lembra como foi atuar em seu primeiro processo criminal?

Você lembra como foi atuar em seu primeiro processo criminal?

Ontem, durante a madrugada de domingo para segunda-feira de carnaval, olhando desfile da Mangueira, comecei a lembrar e pensar sobre meus primeiros processos. E um deles foi muito marcante e especial.

O primeiro processo a gente nunca esquece. E isso é uma verdade absoluta. Lembro que, no final do ano de 2015 e início de 2016, minha irmã Aline, que é bacharel em direito e trabalha em uma instituição carente no bairro Restinga, onde passei grande parte da minha vida, me disse assim:

Leandro, me procurou uma amiga minha e a mãe dela e o irmão dela estão sendo acusados por tráfico de drogas.

Meu primeiro processo criminal

Foi um momento de grande expectativa minha, pois iria ter meu primeiro grande processo na área criminal, além da possibilidade de ganhar honorários acima da minha realidade naquele momento. 

Fui quase que imediatamente à casa dos meus futuros clientes e, chegando lá, tive duas visualizações. A primeira, que seria realmente meu primeiro processo criminal com um grande números de réus, mandados de prisão, busca e apreensão, fotos e tudo mais; a segunda, que meus futuros clientes mal teriam condições de pagar as cópias do processo que já estavam, àquela época, com três volumes (em torno de 600 folhas).

Eu olhei ao redor daquela casa de madeira, muito parecida com a casa de meus pais na minha infância, de apenas dois cômodos e com frestas enormes entre elas, de onde poderia observar qualquer movimento vindo da rua e/ou vice versa.

Com a expectativa quase zero de receber meus honorários, cobrei R$ 10.000,00 e disse mais ou menos assim para meus clientes:

Eu cobrarei 10.000,00 mil reais para meu trabalho até a sentença, e sei que vocês não tem condições de pagar neste momento, porém, podem me parcelar em 5, 10, 15 ou 20 vezes.

Minha tentativa era que a família conseguisse saldar a dívida comigo o mais breve possível.

Deduzindo a resposta negativa que viria, pois, naquele momento todos, absolutamente todos daquele núcleo familiar, estavam desempregados, eles me falaram que não teriam condições de pagar absolutamente nada.

Eu, porém, peguei o processo com toda a vontade e dedicação que tenho até hoje e me dediquei afinco no caso. Entrei totalmente de cabeça naquele processo como se fosse o último processo da minha vida. Lembro que fiz uma defesa prévia de 30 laudas, sim, foram 30 folhas, e até hoje não sei de onde tirei tanto conteúdo para aquele processo.

Recordo que também tinha feito vários prints do Google Maps, pois naquele momento a acusação foi também que a tal quadrilha traficava próximo de escolas públicas do bairro Restinga.

Para comprovar que as tais escolas não eram próximas às casas deles, fiz a juntada de vários prints, demonstrando que as escolas ficavam a mais de 2km de distância, tendo em vista que teria um aumento de pena, caso fosse condenados. 

Após a defesa prévia tivemos nossa primeira audiência. Lembro-me que não foram todos os réus (presos) e com os meus dois réus presentes na audiência não aceitei a inversão da instrução. Posteriormente, foi marcada uma nova audiência do qual foi concluída a instrução e, depois, foram abertos os prazos para memoriais. 

Quando apresentei a última manifestação antes da sentença, em torno de quase 30 laudas, tive conhecimento, para minha grata surpresa, de que tanto marido da minha cliente quanto seu pai receberam da Justiça do Trabalho um ótimo valor em dinheiro.

Ele me ligou e disse:

Dr. Leandro, posso te pagar em duas vezes os teus honorários? Te pago 5 mil agora e 5 mil mês que vem. Pode ser assim?

Eu, silenciosamente, “pulava” de felicidade do outro lado da ligação e disse que sim. Poderia ser em duas vezes o pagamento dos meus honorários.

Recordo que levei meus pais e irmãos para jantar, como forma de celebrar, após receber a primeira parte do pagamento. Foi um dos melhores momentos da minha vida, no qual tive a percepção do que é a profissão de ser advogado (e, em especial da advocacia criminal). 

Nunca é demais lembrar que nós, advogados e advogadas, somos quase que diariamente julgados e julgadas por colegas de outras áreas, pessoas de outras profissões, que acusam nossos honorários de serem “sujos”. 

Fui recompensando pela dedicação que tive no processo. O universo me deu a oportunidade de advogar para aquela família tão querida. Dedicação e amor pela profissão são essenciais para termos para uma carreira digna de sucesso.

A vitória ou a derrota são consequências não somente do nosso trabalho, mas de outras situações que não correspondem somente ao advogado criminalista. Sou eternamente grato pela profissão e por tudo que estou construindo aos poucos em minha vida. Sou grato pela confiança dos meus clientes e amigos. 

Ah, sobre o resultado da sentença, quer saber? Ambos foram absolvidos. Sendo assim, fiquei muito, mas muito feliz com o meu trabalho, pelo resultado do processo e pelo meu honorários. 

Avante!


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Leandro Soares

Advogado criminalista

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