Jogo do Bicho teve apoio da ditadura militar: conheça a história da contravenção
Do jardim zoológico às ruas: A trajetória do Jogo do Bicho
Quando pensamos na história do Brasil, poucos se lembram da intrigante trajetória do jogo do bicho. Criado em 1892 pelo barão João Batista Viana Drummond como uma estratégia de arrecadação para manutenção de um jardim zoológico, o jogo conquistou as esquinas cariocas e logo se espalhou pelo país, resistindo até hoje nas ruas apesar da ilegalidade.
O estudo dessa adversa jornada do jogo desde sua criação até o início do século XXI é o tema principal do livro “Leis da sorte – O jogo do bicho e a construção da vida pública urbana”, escrito pela historiadora Amy Chazkel, uma presença marcante no Departamento de História do Queens College, City University of New York.
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Por que o Jogo do Bicho foi criminalizado?
A pergunta conduz o foco da obra de Chazkel. “A questão principal não é tanto se atividades ilegais estavam ocorrendo, e sim por que razão esse passatempo popular, esse jogo de azar, foi criminalizado”, orienta a escritora. A análise de Chazkel vai além da mera resposta, ao retratar a complexa relação entre o Estado brasileiro e o jogo. Ela aponta que as motivações para a criminalização do jogo do bicho transitaram no limiar entre a conservação dos bons costumes e a exploração do poder arbitrário.
O impacto da Lei no Jogo do Bicho
A partir de registros de prisões relacionadas ao jogo do bicho, a ‘Leis da Sorte’ traz perspectivas sobre o cerco da lei em relação à esta prática. Em um recorte dos primeiros 35 anos do jogo, cerca de 4% dos casos de detenção relacionados ao jogo do bicho terminavam em condenações, pelas razões que variavam desde a falta de provas incriminatórias até a arbitrariedade das ações policiais.
A persistência do Jogo do Bicho na sociedade brasileira
Não obstante as pressões legais e a marginalização da sociedade, o jogo do bicho persiste. Continuou se fazendo presente nas ouras de diversas cidades brasileiras, transcendeu regimes políticos – como Era Vargas e a Ditadura Militar e se manteve resiliente no início do século XXI. O motivo dessa persistência é abordado na obra através da análise de aspectos como o cerceamento das terras comuns, o setor informal e a repressão legal das classes populares.
Por fim, o livro ‘Leis da Sorte’ se demonstra uma leitura crucial para o entendimento da sociedade brasileira. O livro não apenas mostra o jogo do bicho como fenômeno local, mas se propõe a ilustrar como a nossa sociedade foi e ainda é moldada pelo capitalismo e pela trajetória desse passatempo tão peculiar.