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Cyberstalking e outros crimes da Internet

Cyberstalking e outros crimes da Internet

O advento da internet permitiu um grande avanço tecnológico trazendo novas informações em apenas um clique. Permitiu a proximidade entre pessoas (mesmo que virtual), a expansão do mercado de trabalho além-fronteiras, dentre outros progressos.

Em contrapartida, assassinos cruéis se adaptaram a essa modernização e ampliaram suas estratégias em busca de suas vítimas. Isto é, as mídias sociais atuais permitiram novos acessos ou jeitos mais fáceis do predador ir de encontro com a sua presa.

Contudo, há um histórico de crimes anteriores ao surgimento das redes sociais. Parker e Slate (2015) demonstram em seu livro que esses crimes da era “pré-internet” eram intermediados pelos anúncios de jornais, na seção de classificados.


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Estes autores apontam três modalidades possíveis que os assassinos planejavam seus atos homicidas desta época: homens ou mulheres que procuravam parceiros amorosos, publicando suas intenções nos classificados de namoro (Barba Azul/ Viúva Negra); através de propostas de empregos, nos quais a vítima atraída pela oportunidade de trabalho, acabava por perder a vida (Albert Fish) e através de pessoas que ofereciam algo para vender, o assassino fingindo interesse na compra, acabava por encontrar a vítima, e esta pagando um preço muito caro.

Um ponto interessante: com a chegada da internet há um deslocamento de possíveis culpados. Antes a “culpa” de um assassinato recaia geralmente em algum dos empregados da casa, ou sendo o próprio culpado ou como um informante da rotina do morador para outrem.

Pois, acreditava-se que estes eram as pessoas que tinham acesso as intimidades da vítima, sabiam de suas posses e conheciam muito bem o dia-a-dia de cada um da casa. Porém, hoje isso mudou.

Nas redes sociais se encontram qualquer tipo de informação sobre qualquer pessoa, muitos usuários expõem toda sua vida na rede através de fotos e comentários: fotos pessoais, lugares que frequentam, sua rotina, intimidades, etc., não é preciso estar perto fisicamente de alguém para conhece-la.

Alguns tipos de crimes são próprios do meio de comunicação, além dos assassinatos, tem o sequestro, a pedofilia, os “stalkers” (perseguidores), o canibalismo (caso do alemão Armin Meirwes) e até o suicídio. Este último pode ser por meio da instigação ou uma combinação de suicídio entre duas pessoas ou mais.

Um caso notório de dois homens e de duas personalidades doentias chamou bastante atenção do mundo em 2001. Armim Meirwes colocou um anúncio na internet com os seguintes dizeres: “Procura-se homem de grande porte para abate”, muitos homens responderam a esse anúncio, porém apenas um, Bernd Jürgen B, seguiu adiante, vendeu seu carro e com o dinheiro da venda viajou para a cidade do canibal, cumprindo seu compromisso. Esse encontro se resume num sujeito psicopata, canibal e de certa forma, sincero e um sujeito suicida, do qual precisou de outro para tirar sua vida com seu pleno consentimento.

Outro tipo de crime que não surgiu com a internet, mas teve seus progressos é o “stalker”, ou seja, o perseguidor. O “stalker” pode rastrear qualquer um, ele pode perseguir um desconhecido, mas também pode cercar conhecidos como ex namorados (as) que se encontram em desacordo com o fim de um relacionamento, que é o mais comum. Outro cenário recorrente é a perseguição de fãs obcecados por uma personalidade, um exemplo é o caso muito conhecido da morte de John Lennon por um fã.

Recentemente (2016), outra eventualidade com famosos chamou bastante atenção no Brasil, foi o caso da Ana Hickman e de seu perseguidor Rodrigo Augusto de Pádua. Este fã, iniciou seu “stalking” através da internet, também conhecido como cyberstalking.

De início abriu uma conta na rede social Instagram postando fotos de sua vítima com muitas frases de amor, expondo seus sentimentos e seus desejos sexuais, também abriu uma conta do Twitter, onde constantemente marcava o nome de Ana. Além de acompanhar o perfil e as postagens da famosa. Rodrigo já se apresentava obsessivo, insistente, querendo uma atenção exagerada.

A fama tem um preço, e em busca dela as pessoas se expõem em demasia nas redes sociais, por isso, para um “stalker” de famosos, facilmente descobrirá onde o ídolo/vítima está, já que estes serviços exibem a localização publicamente, como cidades, restaurantes, hotéis que se hospedam, festas e podem até descobrir onde moram.

Voltando ao caso de Hickmann. Pressupõe-se que em certo momento a atriz demonstrou incômodo com as postagens de Rodrigo ou até mesmo o “silêncio” dela diante das demandas de amor do perseguidor, pode ter sido considerado uma rejeição, produzindo desta forma mensagens de rancor e ódio, e iniciando o plano da tentativa de assassinato.

Rodrigo conseguiu uma arma, rendeu uma pessoa que estava no hotel em que a atriz estava hospedada e a obrigou leva-lo ao quarto. Neste momento, o cunhado de Ana percebeu, pelo comportamento de Rodrigo, que não se tratava de um assalto, mas de uma pessoa descontrolada, fato que o fez agir, entrando em luta corporal. Por fim, uma mulher levou um tiro e o Rodrigo foi morto com a própria arma que levou.

Pelo histórico das publicações de Rodrigo nas mídias sociais, principalmente pelo conteúdo delas, pode-se hipotetizar que se trata de um sujeito psicótico, descontrolado e com uma fixação descomunal pela atriz. Rodrigo tinha trinta anos, morava com os pais, sem competências profissionais e socialmente inadequado, pois passava quase o tempo todo dentro do quarto, provavelmente buscando informações de Ana Hickmann, fazendo suas declarações e construindo um mundo onde ambos estão juntos.

Enfim, os “stalkers” assediam qualquer perfil de vítima, pode ser ex-parceiro (a), famoso (a), desconhecido (a), geralmente é uma pessoa que representa algum ideal para o perseguidor.

Assim como a vítima pode ter qualquer perfil, o “stalker” também, pois a perseguição se configura como um comportamento secundário a um transtorno, ele pode ser um psicopata, um borderline, que ama demais e não aceita um término, um paranoico (psicótico), ou seja, vai depender das observações na cena de crime, no caso a caso.

Após essa leitura, é possível repensar se irá fazer um “check in” de sua localização nas redes sociais, e pensar em outros cuidados, não se expondo tanto para possíveis perseguidores. E se o leitor já é vítima de “stalking”, seja no mundo virtual ou pessoalmente, uma medida é procurar uma Delegacia de Polícia para fazer uma denúncia e obter orientações. Pode-se também procurar a Delegacia da Mulher ou a Delegacia de Polícia de combate aos Crimes Cibernéticos (nem toda cidade possui).


REFERÊNCIAS

FREITAS, H. Stalking: a perseguição obsessiva que vai muito além das redes sociais. Disponível aqui.

PARKER, RJ.; SLATE JJ. Social killers.com – Amigos Virtuais, Assassinos Reais. Rio de Janeiro: Darkside Books, 2015. 272p.

SCHECHTER, H. Serial Killers – Anatomia do mal. Rio de Janeiro: DarkSide Books, 2013.480p.


 

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  • Algumas reflexões sobre o cyberstalking (aqui)

Clarice Santoro

Especialista em Psicanálise, Saúde Mental e Criminal Profiling. Psicóloga.

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