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A soma de todos os medos: o jogo dos poderes

A soma de todos os medos

Inverossímil até que alguns aviões sequestrados por terroristas derrubem do auge toda a segurança ocidental, toda a sua proteção por intermédio de sua inteligência e aparatos tecnológicos. Nada disso pôde conter a soma de todos os medos que surgiu após a trágica queda das torres gêmeas.

O filme que carrega o mesmo título deste texto foi escrito em 1991 pelo escritor de ficção policial Tom Clancy e faz parte de uma série extensa de livros que contam a história de Jack Ryan, no thriller em questão representado por Ben Affleck.

Em outras aventuras no cinema, o historiador da CIA já foi interpretado também por Harrison Ford em Perigo real e imediato e Jogos Patrióticos (1994 e 1992) e Alec Baldwin que viveu o herói em Caçada ao Outubro Vermelho de 1990.

Ocorre que nenhum dos livros escritos anteriores à obra de 1991 teve tanta repercussão como a soma de medos tão reais e apavorantes e tão absurdamente próximos dos acontecimentos que se seguiram no fatídico onze de setembro.

Foi tamanha a intensidade e proximidade com a realidade que sua estreia teve que ser adiada das salas do cinema, pois os acontecimentos que trazia eram similares aos ocorridos em 2001.

Deixando de lado toda a teoria da conspiração que gira em torno do nefasto evento, tanto livro quanto filme demonstram a capacidade dos governos em dar suporte às guerras em que se envolvem, da mesma forma com a qual conseguem encontrar proposito e respostas para as ações bélicas.

E a primeira delas é a soberania e aquela sensação de impotência que não deve estar próxima dos grandes; devem mostrar que estão preparados para todas as fases de um conflito armado mesmo que dúvidas surjam sobre o real início da contenda.

Os poderes que estão em jogo não são representados pela ameaça que se ofusca em uma cortina de fumaça invisível e que separa duas nações em conflito desde o termino da segunda guerra. São simplesmente representados pelo pavor e pelo temor da impotência.

Esse horror não pode estar perto de nações controladoras do mundo, não se pode demonstrar fraqueza; como nos bons westerns de mocinho e bandido, onde a rudeza do Oeste forjava os corações dos valentes que não poderiam evidenciar a piedade.

De fato, entre mocinhos e bandidos difíceis de identificação surge o mal em torno da dissimulação e da frívola aceitação de que existem raças que nasceram para comandar e outras para serem dominadas.

Os neonazistas e todo o grupo terrorista, bem divididos em suas células e lutando como milícias que dificilmente podem ser localizadas, pois mesclam-se ao povo no primeiro contato com o perigo, estão lá fazendo planos para que as duas potencias mundiais entrem em conflito e aniquilem uma a outra, abrindo espaço para algo a mais.

Nesse sentido, a obra de Tom Clancy demonstra um evento determinado pela globalização dos mercados e da tecnologia: o mundo já não é mais tão extenso e aquilo que antes era terra erma é profícuo solo para disseminar ideias e apologias.

Dessa forma, assegurar uma ideologia de conflito e retomada dos orgulhos perdidos em guerras passadas era maneira de controlar os novos soldados para a guerra; que ocorre nas sombras.

A soma de todos os medos representa essa globalização das tecnologias e as proximidades entre ideias, idealizadores e seguidores, que em um clique de mouse conseguem movimentar o medo e o pavor em uma escala nunca antes pensada.


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Iverson Kech Ferreira

Mestre em Direito. Professor. Advogado.

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