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O autismo de Greta Thunberg descredibiliza o seu discurso?

O autismo de Greta Thunberg descredibiliza o seu discurso?

Com esse questionamento, podemos nos indagar até que ponto perturbações da psiché descredibilizam o discurso de alguém.

A esse tema, o perito psicólogo, quando é chamado pela justiça através de um exame pericial, pode responder diante da particularidade de cada caso. Porém, no caso de Greta, o que podemos sugerir?

Primeiramente, temos que nos questionar de quem seria o autismo. Pois, atacar uma criança que fala em seus discursos na ONU, sobre preocupações com o meio ambiente, em que todos vivemos, me parece mais uma insanidade, um ato autista da realidade…

Outro ponto é desconsiderar a natureza tipicamente pueril das crianças. Devido a essas características, próprias da infância, tendem a serem ingênuas e suas preocupações podem girar em torno de questões genuínas e altruístas.

O autismo de Greta Thunberg

A questão do autismo, diferente de muito do que foi posto, nos coloca diante da peculiaridade do autismo de Greta, pois, mais importante do que estar falando a verdade ou não, se há assincronismo na expressões de tais emoções, é compreendê-lá do ponto de vista do que expressa, do que representa e do inegável esforço que faz.

Porém, é importante considerar que o quadro do transtorno do espectro autista (TEA) engloba diferentes condições, todas elas “marcadas por perturbações do desenvolvimento neurológico, todas relacionadas com dificuldade no relacionamento social.”

Existem autismo de alto desempenho, em que essas dificuldades são reduzidas e o nível intelectual geralmente é alto. Autistas de alto desempenho são verbais e inteligentes e, por isso, muitas vezes confundidos por gênios.

Apesar de existir um déficit no padrão das interações sociais e na expressão das emoções, o espectro autista é muito amplo. É comum que esses indivíduos que apresentam altas habilidades e quadros de alta funcionalidade em determinadas áreas sejam obstinados a realizar cálculos matemáticos avançados, jogar xadrez ou até mesmo estudar literatura, se formar em medicina.

Então, qual seria a estranheza de uma menina, em sua natureza pueril e características específicas da personalidade, ser capaz de realizar tais discursos, como realizou?

O fato mais autista da questão não é o autismo de Greta, e sim a falta de credibilidade no conteúdo do seu discurso. Afinal, o que de absurdo existe em uma criança com um quadro de autismo de alta funcionalidade fazer um discurso na ONU sobrepondo valores ambientais a valores econômicos?

A estranheza não se refere apenas a uma natureza apartada da realidade, e sim a uma frieza que desrespeita e viola a inocência e direitos de uma criança ao vociferar ferozmente criticando suas atitudes, valores e diagnósticos.

Não dar credibilidade ao discurso de uma criança no que ela expressa e fala desde cedo certamente lhe é prejudicial. O que esperar de uma criança que, desde cedo, não recebe fé naquilo que fala e diz?

O discurso de Greta certamente merece credibilidade do ponto de vista psicológico e legal, considerando as particularidades do seu caso, pois suas características e nível intelectual sugerem o pleno entendimento do que fala. Não é porque o indivíduo porta um transtorno que sua fala tem de ser desconsiderada. Na maioria das vezes, determinados transtornos mentais não interferem no nível de entendimento dos seus atos.

Portanto, uma outra reflexão deve vir à tona: será que o modo como a sociedade, ou parte dela, trata suas crianças está de acordo com respeitar os direitos e liberdades fundamentais de uma criança?


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Felipe de Martino Pousada Gomez

Mestre em Enfermagem Psiquiátrica. Professor convidado do Instituto Paulista de Estudos Bioéticos e Jurídicos. Psicólogo forense.

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