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Selvagens da noite: os guerreiros

Selvagens da noite: os guerreiros

Com direção de Walter Hill, Guerreiros, Os Selvagens da Noite de 1979 foi um thriller interessante de ação. Mesmo com seu roteiro despretensioso e suas coreografias de briga de rua abusando da teatralidade fugindo assim dos reais cenários que as guerras de gangues proporcionariam, o filme consegue cativar de uma maneira ou outra.

The Warriors, ou os guerreiros, foi um livro escrito por Sol Yurick em 1965 e levado aos cinemas alguns anos depois (Os Selvagens da Noite) demonstra um pouco da experiência de vida do seu escritor, que traduziu em livro as dificuldades que vivenciou enquanto assistente social em Nova Iorque nos anos 70.

Era uma época de um fluxo intenso de emoções e de grandes batalhas.

A luta contra o preconceito racial, as revoluções contrarias às guerras em meio à aventura militar dos EUA no Vietnã, alvoroçavam as partes de uma exorbitante contestação social que levava multidões às ruas.

Enquanto isso, tradicionais gangues da cidade se encontram para confabular uma paz duradoura trazida por um dos grandes líderes de turmas da pesada, conhecido como Ismael, que teria a real intenção de lutar contra o sistema coercitivo do Estado e assim; contra tudo o que representa a estrutura ideológica de domínio estatal.

Buscavam o caos e a anarquia e tentavam consolidar o poder das gangues dentro de seus limites, onde cada qual teria o direito de controlar conforme seus anseios e desejos.

O autor deixa claro em seu discurso narrativo que a união das tribos seria a salvação e a destruição ao mesmo tempo, tanto que nessa mesma reunião, Ismael foi assassinado enquanto discursava com o status de um poder carismático que simbolizava a união dos grupos por apenas um único líder.

Esse fato deixou alguns enciumados, o que gerou o homicídio de Ismael.

Apesar das perseguições, uma gangue passou a ser acusada injustamente do assassinato do líder supremo, o drama do livro se mantém no filme, divulgando linguagem própria que identifica os grupos, que lutam por sobrevivência em uma guerra de ódio.

Mesmo em um encontro de relativa paz onde o pedido de harmonia entre os bandos ressaltava que a união de todos poderia valer algo maior, a discórdia entre os diferentes se fez presente; recomeçando uma guerra sem precedentes, dentro das cidades.

A diferença das máfias e tais gangues é a estrutura de poder que seleciona as atitudes e culmina em um cego respeito por um temor reverencial altivo, no caso das famiglias.

Os bandos lutam por sobrevivência e identidade, não mais que isso. Seus sucessos financeiros são provenientes de pequenos furtos e assaltos nas regiões onde se instalam, e logo serão aniquilados pela máfia local, que tratava de incendiar uma guerra contra as gangues de jovens que não obedeciam aos preceitos mafiosos.

O filme “Selvagens da noite”, como ficou conhecido no Brasil, fez sucesso nos anos 80 quando era reprisado inúmeras vezes, e com isso o livro de Yurick ganhou fama.

Interessante que o autor, que não intencionava tamanha popularidade, teve seu trabalho no campo social, onde percebeu e viveu as mazelas de jovens perdidos para as gangues que cresciam em número e força numa Nova Iorque desigual, entre muitos ricos e muitos paupérrimos, reconhecida e interpretada como uma possibilidade real a vida nos bandos.

As gangues cresciam nos anos 70 e a cidade entabulava um conceito de identidade e aceitação baseado no sucesso e na real busca pela felicidade, que era interpretada de maneira lacônica, não considerando as diferenças entre as classes.

Nesse contexto, aqueles grupos que não faziam parte das possibilidades de sucesso dos outros, eram excluídos de maneira simples. Moradores de determinadas partes ou bairros da grande cidade tinham sua marca, um estigma que perdurava e mantinha-os em seu lugar.

As gangues eram formadas pela falta de possibilidades e oportunidades e faziam de seus bairros campos de batalha onde realizavam a própria oportunidade por meio da violência, do submundo e do crime que crescia a largos passos.

Selvagens da noite pode não ser uma obra literária de grandes malabarismos intelectuais ou de enorme contribuição linguística, mas é em si um retrato que um ex-assistente social passou daquilo que conheceu em campo, daquilo que muitos fogem e que o próprio autor presenciou: da violência e do mundo cercado pela selvageria.


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Iverson Kech Ferreira

Mestre em Direito. Professor. Advogado.

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