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Admiradores de serial killers: groupies

Admiradores de serial killers: groupies

Por mais perturbador que seja, existem pessoas que admiram e apresentam devoção a certos tipos de criminosos: ladrões de banco, traficantes, assassinos em série, etc. Muitos desses “fãs” gastam boa parte de seu dinheiro para comprar obras de arte produzidas pelos assassinos ou objetos que os façam lembrar deles.

Um exemplo é do “serial killer” americano John Wayne Gacy, que obteve um alto lucro com a venda de suas pinturas de palhaço, caveiras e outros, feitos durante sua prisão.


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  • John Wayne Gacy, o palhaço assassino (aqui)

Muitas vezes se tem um efeito hipnótico sobre o sexo oposto e há uma pequena parcela de mulheres que se apaixonam por assassinos em série. Com intuito de uma proximidade, começam a se corresponder com os assassinos através de cartas enviadas para a prisão, outras chegam a visitá-los ou trocam ligações quando possível. Existem relatos de casamentos entre pessoas livres com criminosos que estão e ficarão um bom tempo atrás das grades.

Ted Bundy, durante sua prisão, recebeu inúmeras cartas de amor advindas de jovens morenas, muitas destas se assemelhavam com as características de suas vítimas: cabelos escuros, longos e partidos ao meio. Bundy casou-se com uma das fãs, com a mesma semelhança física das vítimas e a engravidou via inseminação.

Um dos mais famosos serial killers brasileiros, o “Maníaco do Parque”, recebeu centenas de cartas de admiradoras (groupies) somente no primeiro mês após sua prisão. Por fim, casou-se com uma delas, uma mulher com pós-graduação, de classe média alta que se apaixonou quando o viu na televisão.

Um ínfimo número dos fãs se comportam criminosamente e agem repetindo o modus operandi do assassino. São conhecidos como os “copycats murders”. Apesar de que não existe registro de uma cópia idêntica ao assassinato “original”, apenas similar. Por outro lado, também ocorre cópias de assassinatos representados em filmes, como Hannibal, Dragão Vermelho e Zodíaco.

O massacre de Columbine, por exemplo, foi seguido por uma onda de tiroteios em escolas perpetradas por imitadores juvenis que buscavam deixar sua própria marca sangrenta na sociedade. E em meio aos ataques com antraz que sucederam o 11 de setembro, vários birutas anônimos saíram da toca, aumentando o pânico geral ao enviar envelopes carregados de pó inofensivo pelos correios. (Schechter, p. 280)

Veronica Compton se apaixonou por Kenneth Bianchi. Aproveitando desse fato, Bianchi convidou-a para uma visita na prisão, este entregou para a amante uma luva de plástico com uma amostra de seu sêmen, instruindo-a a cometer um assassinato igual aos seus, plantando o sêmen na vítima. Desta forma, convenceria as autoridades de que o verdadeiro “Estrangulador de Hillside” ainda estaria à solta.

Da mesma forma dos casos acima, há um efeito hipnótico em grupos que são atraídos por assassinos em série. Por exemplo, é notório a persistente devoção dos membros da “família” por Charles Manson, há toda uma nova geração de fãs que acreditam que Manson foi acusado erroneamente.

Um ponto intrigante nessas histórias é compreender o que se passa na mente desses fãs (groupies) de serial killers. Como que surgiu essa enorme atração e esse efeito hipnótico? Pode-se hipotetizar que há um certo fascínio humano pelo incompreensível, já que uma série de crimes não tem muita explicação ou sentido.

Pode também ser uma forma de lidar com sua própria agressividade, pois esta teve que ser barrada, para viver harmoniosamente em sociedade. Ou uma crença de que se possui habilidades que mudará o comportamento perverso do assassino em série, numa fantasia de resgate.

Algumas mulheres acreditam que há uma criança boa dentro desses assassinos que precisam de proteção e ajuda. Pode ser uma forma de estar no controle da relação, se o marido está preso, é ela quem toma as decisões e não corre o risco de ser agredida, já que está protegida pelos guardas da prisão.

Por um lado mais narcisista, se inclui atração sexual por indivíduos que cometem atos violentos, chamada de hibristofilia. O desejo de ganhar popularidade e estar no centro das atenções, pegando a “fama” do serial killer. E até mesmo de se sentir especial e ter uma emoção vicária, como se tivesse participado dos crimes.

Numa perspectiva do inconsciente, pode-se pensar no desejo de morrer assassinada, ou ideia de estar em perigo constante e que pode ser violentada a qualquer momento.

Groupies são formadas por pessoas de ambos os sexos, apesar das mulheres representarem essa classificação em maior número. Enfim, as motivações são diversas, uma análise possível seria pegando cada caso e construindo sua história.


REFERÊNCIAS

NEWTON, M. The Encyclopedia of Serial Killer. Second Edition. Ed. Checkmark Books, 2006.

SCHECHTER, H. Serial Killers – Anatomia do mal. Rio de Janeiro: DarkSide Books, 2013.480p

Clarice Santoro

Especialista em Psicanálise, Saúde Mental e Criminal Profiling. Psicóloga.

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