Investigação aponta que arma usada para matar Marielle Franco teria sido desviada em incêndios no Batalhão de Choque da PM na década de 80
De acordo com a Polícia Federal, informações fornecidas pelo ex-militar Élcio de Queiróz em sua delação levaram as autoridades a descobrirem que a metralhadora HK MP5 usada no homicídio da ex-vereadora Marielle Franco teria sido desviada durante incêndios ocorridos no Batalhão de Choque da PM, no Centro do Rio, na década de 1980.
Segundo as autoridades, Queiróz teria dito que a arma foi extraviada “num incêndio no Batalhão de Operações Especiais (Bope), no paiol”. Com essa informações, os investigadores fizeram um levantamento sobre incêndios em paióis da PM do Rio e descobriram que, de fato, houveram dois incêndios entre 1982 e 1984 que destruíram paióis da corporação, porém, os incidentes ocorreram no Batalhão de Choque (BPChq), e não no Bope.
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Armas foram extraviadas durante incêndio do Batalhão de Choque, diz delator
Em sua declaração, Queiróz contou que Lessa costuma usar uma metralhadora HK MP5 em ações do Bope e tinha um “carinho” por esse armamento. Ele afirmou ainda ter ouvido de Lessa que a arma do crime e outras armas haviam sido extraviadas durante um incêndio ocorrido no paiol do Bope. A metralhadora teria ficado com uma pessoa que “conseguiu fazer a manutenção e vendeu para ele“.
Após a declaração, a polícia federal passou a apurar os casos de incêndio ocorridos da corporação e descobriram que na década de 1980, o BPChq foi o quartel responsável pela guarda de 12 submetralhadoras HK MP5. As armas chegaram ao batalhão em janeiro de 1983 e, posteriormente, em 1989, passaram a integrar o arsenal do Núcleo da Companhia de Operações Especiais, atual Bope.
Sobre a declaração de Queiróz, trecho do relatório feito pela PF diz:
“a confirmação de que houve pelo menos dois incêndios em unidades do Batalhão de Choque e de que havia submetralhadoras HK MP5 em seus arsenais torna o relato sobre a origem da arma verossímil.”
Incêndios nas unidades militares
O primeiro incêndio aconteceu em maio de 1982 no depósito de material da 1ª Companhia do batalhão. De acordo com registros da corporação, o incidente foi causado por uma explosão após um curto-circuito que destruiu parcialmente a unidade. Na ocasião, cinco policiais ficaram feridos e o estrondo causado pela explosão chegou a acordar a vizinhança ao redor do quartel. A PM, no entanto, não conseguiu fornecer maiores detalhes sobre o material que foi extraviado por conta de um alagamento no arquivo do Bope em 2016, que danificou uma série de documentos do batalhão.
O segundo incêndio aconteceu no dia 31 de maio de 1984 na oficina de manutenção de armamento do batalhão. Segundo documentos elaborados pela PM à época, houve destruição de material bélico armazenado no local. Na ocasião, um casal que passava na frente do batalhão viu fumaça saindo por uma das janelas e alertou os policiais que faziam a guarda do quartel. A investigação aberta na época não conseguiu precisar a causa do incêndio.
Arma utilizada na morte de Marielle
Até hoje as autoridades não encontraram a arma que foi utilizada na morte de Marielle Franco. Segundo Élcio, Ronnie teria ficado com ela durante um tempo, mas depois, teria a jogado no mar.
“No início, ele ficou com ela ainda, mas quando o negócio começou a tomar muito vulto mesmo, eu falei ‘o que você fez com essa arma?’ Ele falou ‘eu serrei ela todinha’ […] Ele falou que serrou ela todinha, pegou a embarcação lá na Barra da Tijuca, foi numa parte que tinha trinta metros e jogou ali” declarou Élcio
O caso segue sendo apurado pela Polícia Federal e pelo Ministério Público.
Fonte: O Globo