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Elaboração de perfis e suas dificuldades

Elaboração de perfis e suas dificuldades

O processo de elaboração de perfil não é uma tarefa fácil. Ele é desenvolvido a partir de uma avaliação minuciosa de todos dados disponibilizados de uma investigação e possui alto nível de responsabilidade, visto que o perfil construído irá fazer parte da investigação criminal e pode ter grande relevância no contexto judicial.

Perfis criminais

O perfil criminal é uma ferramenta investigativa que auxilia os investigadores quando faltam provas e/ ou suspeitos, uma vez que estão esgotadas as alternativas típicas das análises criminais, como os vestígios, testemunhas, exames laboratoriais, entre outras.

Entretanto, num caso, o profiler pode não ter elementos suficientes para a elaboração do perfil, não podendo dar continuidade e, quando tem uma considerável quantidade de dados o perfil, pode ser iniciado.

Segundo Konvalina (2014), o perfil pode ter dois objetivos: “identificar ou reduzir um grupo de suspeitos, traçando o perfil psicossocial do agressor desconhecido” e também “analisar uma ocorrência e identificar, o mais pormenorizadamente possível, o contexto em que esta decorreu”.

Sabe-se que a composição do perfil criminal é formada pelas inferências acerca de características da pessoa responsável por cometer um crime ou uma série de crimes. Contudo:

Inferência implica evidência e raciocínio lógico, devendo distinguir-se da especulação, que consiste numa conclusão baseada em teoria ou conjectura sem evidência empírica ou experimental. Por outro lado, um profiler deverá evitar o viés resultante das teorias preconcebidas. (Silva et al.,p.252)

Além dessa especulação, que pode contribuir para uma errônea elaboração de perfil, outro fator merecido de atenção é o difícil diagnóstico de psicopatia. De fato, os psicopatas são responsáveis pela maioria dos crimes de grande violência, e também os antissociais, já que possuem traços psicopáticos.

A psicopatia pode ser descrita por diversos autores, o Cleckey, no seu livro The Mask of Sanity (1941), é um marco para o seu diagnóstico; Hare (psicólogo e conselheiro do FBI) fez uma nova formatação sobre a psicopatia a partir das formulações de Cleckey e também o DSM-5 traz seu conceito a respeito:

A característica essencial do transtorno da personalidade antissocial é um padrão difuso de indiferença e violação dos direitos dos outros, o qual surge na infância ou no início da adolescência e continua na vida adulta. Esse padrão também já foi referido como psicopatia, sociopatia ou transtorno da personalidade dissocial. Visto que falsidade e manipulação são aspectos centrais do transtorno da personalidade antissocial, pode ser especialmente útil integrar informações adquiridas por meio de avaliações clínicas sistemáticas e informações coletadas de outras fontes colaterais (p. 659).

Existe uma gama de conhecimentos disponíveis para o perfil de personalidades psicopáticas, tem-se instrumentos de avaliação (PCL-R, PPI – psycopathic personality inventory, APSD…), técnicas de entrevista, e avaliação de todas inferências da investigação criminal.

Silva et al. relatam aspectos que o perfilador tem que dar conta na construção dos perfis, dentre eles: o profiler deve separar fatos de opiniões, ter efeito observador (pode ocorrer distorções resultantes do contexto e estado mental do perito), a inferência pode ser dedutiva ou indutiva, mas sempre baseadas na evidência, no raciocínio e no processo.

Outros aspectos de grande relevância é: levar em maior consideração a autoridade da evidência, pois uma autoridade entrevistada pode não ser perita na matéria que está em discussão.

Ao não procurar inferências ou apelo à tradição, pode-se cair em diversas armadilhas: “fulano é tímido, logo não pode cometer tais crimes”, ou “ele é muito bonito, não precisa de estuprar, pode conquistar qualquer mulher”, e dispensar apelos emocionais: “eu tenho certeza que ele matou meu filho” ou “lobo vestido de pele de cordeiro”, numa tentativa de tirar a atenção da evidência forense.

As mentiras contadas por suspeitos e testemunhas também pode causar armadilhas na condução. E importante lembrar que ambos estão tendo respostas emocionais intensas, e´, quando falam a verdade, também estão sofrendo intensos sentimentos. Tanto a mentira quanto a verdade dita podem ter diversas motivações a serem analisadas.

Por fim, há muitos mitos acerca da construção do perfil. As séries televisas e os filmes sobre crimes alimentam esse mito, com soluções óbvias e rápidas. Excessiva de confiança em detectores de mentiras; um psicopata pode “passar” no teste, sendo culpado do crime, não apresentando nenhuma alteração fisiológica.

Não basear o perfil em manuais prontos de investigação, todo crime tem um contexto único. Enfim, um perfil criminal tem que ser baseado na análise de provas comportamentais, redigido de forma clara para que não ocorra duplas interpretações, sendo um registro fidedigno da investigação.


REFERÊNCIAS

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. DSM-5: Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. 5ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. 992p.

KONVALINA-SIMAS,T. Profiling Criminal – Introdução à análise comportamental no contexto investigativo. 2 ed. Editora Letras e Conceitos Lda, 2014. 306p

SILVA, C. F. et al. Psicopatia, Engano e o Problema Difícil dos Perfis. Profiling, Vitimologia & Ciências Forenses, Lisboa. 2ªedição, p.251 – 267. Mar. 2012.


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Clarice Santoro

Especialista em Psicanálise, Saúde Mental e Criminal Profiling. Psicóloga.

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