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O uso da vitimologia no Criminal Profiling

O uso da vitimologia no Criminal Profiling

A Vitimologia é o estudo que analisa a vítima e pode ser usado para auxiliar em investigações observando a função da vítima para o crime e como as suas informações podem ser relevantes para identificar o criminoso.

Dentro da Vitimologia existem várias áreas de estudo, como o nível de risco da vítima, análise das últimas 24 horas, o tipo de participação no crime, seleção da vítima e a sua vitimização em cada fase processual. Aqui veremos a Vitimologia através do aspecto investigativo como uma ferramenta de auxílio para a definição de um perfil criminal e o encontro de possíveis suspeitos.

Para o caso de vítima sobrevivente, por exemplo, é possível usar como ferramenta a entrevista cognitiva, que consiste em uma técnica de entrevista com a vítima para que ela volte ao momento do crime e possa trazer informações novas sobre como o crime ocorreu e o autor do crime.

Outras ferramentas envolvem análises mais profundas como:

A relação entre vítima e agressor

Na maioria das vezes, a vítima conhece o agressor e convive com ele, por isso é importante analisar as pessoas ao seu redor e com quem ela convive, já que isso pode auxiliar na descoberta do agressor.

Sendo possível, entender qual o tipo de relacionamento que a vítima tinha com o agressor, se eles eram conhecidos, íntimos, familiares, ou se simplesmente a vítima estava no lugar errado e na hora errada, se foi escolhida ocasionalmente, isso tudo pode ser determinante.

Princípio de transferência de Locard

Todo contato entre a vítima e o autor do crime deixa rastros nos dois. Essa transferência entre eles pode surgir tanto em traços físicos como em traços psicológicos, fatores relevantes para compreender o criminoso.

Espaço e tempo compartilhado

No momento do crime, a vítima e o criminoso compartilham o seu tempo e o espaço que ocupam. Sabendo quanto e qual o espaço de tempo e o local em que a vítima se encontrava no momento do crime e também nos momentos anteriores próximos ao crime, podemos entender que outras pessoas também compartilharam esse tempo e lugar, assim facilitando a identificação do criminoso ou a aproximação do autor do crime.

O tipo de pessoa e seu estilo de vida relacionado a um determinado tipo de crime

Conhecer a vida de uma pessoa, por quais lugares ela anda e que estilo de vida ela leva pode ser de grande ajuda para ter uma ideia de que tipo de criminoso poderia ter contato com a vítima, conhecendo ou não.

Entender o estilo de vida da vítima é uma das peças mais importantes, pois assim é possível compreender o nível de risco da vítima, o que indica o possível tipo de criminoso que procurou a vítima. Para analisar o nível de risco, algumas características do estilo de vida são fundamentais:

Características físicas e psicológicas

O tipo físico, o comportamento e comorbidades podem ser importantes para o crime.

História de vida

Todo o histórico da vítima pode influenciar no crime, pois pode ter ocorrido por algo relacionado com o passado.

Rede social

As pessoas que convivem com a vítima podem estar envolvidas com o crime, como amigos, familiares, colegas dos ambientes em que a vítima frequenta, pessoas próximas a quem ela convive e até pessoas que passam por ela no seu dia a dia.

Características profissionais e financeiras

O tipo de trabalho e a vida financeira da vítima também podem estar envolvidos no crime, principalmente se houver problemas financeiros ou se existir um interesse na vida financeira da vítima.

Atividade, rotinas e hobbies

Quando um crime deixa uma vítima, não parece importante entender a rotina e as atividades da vítima, mas isso pode ser determinante, pois o crime pode envolver algo na rotina, no tipo de hobbies que a pessoa tem assim como os lugares que ela frequenta e as pessoas com quem ela convive. São detalhes que podem passar despercebidos e que não são analisados frequentemente, mas que podem fazer toda a diferença.

Após essa análise é possível identificar as vítimas como de risco baixo, médio ou alto.

A vítima de baixo risco é aquela que não se expõe a situações de risco, já a vítima de médio risco é aquela que é exposta a algum risco, e por fim, a vítima de alto risco que é aquela que constantemente exposta a riscos e tem alta probabilidade de ser vitimizada.

O estilo de vida vai demonstrar o nível de exposição da vítima a prováveis crimes, como locais considerados perigosos, convívio com pessoas criminosas, uso de drogas e vulnerabilidade, como no caso de crianças e idosos.

Todas essas características, seja para determinar o tipo de vítima, ou simplesmente analisar a sua vida, são fundamentais para compreender como o crime ocorreu e quem o cometeu. Muitas vezes essas informações são determinantes, já que a vítima muitas vezes não é vitimizada por acaso e o autor é do seu convívio. Nesses casos é importante entender muito além das últimas 24 horas da vítima.


REFERÊNCIAS

PAULINO, M. ALMEIDA, F. Profiling, Vitimologia & Ciências Forenses, Perspectivas Atuais. 2ª Edição. Editora Pactor: Lisboa, 2016.

SIMAS, Tânia Konvalina. Profiling Criminal. Introdução à Análise Comportamental no Contexto Investigativo. Lisboa: Rei dos Livros, 2012.


Leia mais textos da coluna Criminal Profiling aqui.

Verônyca Veras

Especialista em Criminal Profiling. Advogada.

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