Necrofilia: Ministério Público vai apurar vídeo em que ex-PM minimiza pena de violação sexual de mulheres mortas
Nesta semana, um vídeo que mostra o ex-policial militar Evandro Guedes, durante uma aula online em uma escola preparatória para concursos, minimizando a pena do crime de violação sexual de mulheres mortas viralizou nas redes sociais. O conteúdo gerou diversas críticas e o Ministério Público do Paraná vai apurar as declarações proferidas pelo ex-PM.
Em nota enviada ao GLOBO, o MP-PR afirmou que as imagens serão incluídas em um inquérito civil em andamento na 12ª Promotoria de Justiça de Cascavel, no oeste do estado, onde o curso tem sede.
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A Promotoria já investigava notícias veiculadas na imprensa e nas redes sociais sobre as condutas de professores da Jafar Sistema de Ensino e Cursos Livres S/A, de nome fantasia AlfaCon Concursos Públicos. Ainda segundo o MP-PR, em falas feitas durante aulas ministradas na instituição, “há manifesta violação de direitos, preconceito, reiterado discurso de ódio e incitação à prática de crimes”.
“O vídeo reproduzido em rede social em 4 de dezembro (com exemplo em aula, ministrada em data bem anterior, de suposta violação sexual de mulher morta) chegou ao conhecimento da 12ª Promotoria de Justiça no dia 5 de dezembro e será inserido no inquérito civil já em tramitação”, diz a nota do MP, em referência às declarações do ex-PM.
AlfaCon diz que vídeo fere as diretrizes da plataforma
No vídeo gravado em uma sala de aula, Evandro Guedes, fundador da escola preparatória AlfaCon, também ex-PM, falava sobre o crime de vilipêndio de cadáver, para o qual o Código Penal prevê pena de um a três anos de detenção, além de multa. Guedes afirmou se tratar de um exemplo “fictício” para ilustrar uma situação do direito penal.
Em nota, o curso AlfaCon afirmou que o vídeo da aula do ex-PM “está em total desacordo com as diretrizes” da empresa e foi tirado do ar. A equipe do curso prometeu apurar o caso.
MP-PR irá se encontrar com sócios da empresa
O MP-PR informou, através de uma nota, que a 12ª Promotoria de Justiça designou reunião com os sócios da empresa para janeiro de 2024. O objetivo é promover a assinatura de um Termo de Ajustamento de Conduta, no qual o curso preparatório se comprometa a:
- Treinar periodicamente e obrigatoriamente os professores da empresa;
- Destinar valor para custear e fomentar a realização de campanhas educativas de combate à discriminação e intolerância e/ou projetos sociais com o mesmo foco, em razão do dano moral coletivo causado em virtude dos episódios de discriminação e intolerância praticados no âmbito da pessoa jurídica e pessoas naturais investigadas.
Ex-PM usou hipótese para explicar crime de vilipêndio a cadáver
A data de gravação do vídeo é desconhecida, contudo, o vídeo repercutiu na web nesta segunda-feira (04). Durante a aula, o ex-PM cita, como hipótese, a situação de um jovem virgem que passou num concurso de nível médio para atuar com necropsia e a morte de uma assistente de palco do programa “Pânico”.
“Aí você está lá e vem uma menina do Pânico da TV morta. Meu irmão, com aquele ‘rabão’. E ela infartou de tanto tomar ‘bomba’ na porta do necrotério e tu levou lá para dentro. Duas da manhã, não tem ninguém. Você bota a mão, hmm quentinha ainda. O que você vai fazer? Vai deixar esfriar? Meu irmão, eu assumo o fumo de responder pelo crime”, diz o ex-PM.
Na sequência, ele cita como posicionar o cadáver para realizar o ato. Guedes ainda “ensina” como usar um secador de cabelos para o momento que o corpo da mulher “esfriar”.
“E ainda avisa o cara que vai te render: cara, deixa que eu vou virar de plantão para você. E é o dia mais feliz da sua vida, irmão. É crime? É. Você mexeu com a honra do cadáver. O sujeito passivo do crime é o familiar da vítima — afirma Guedes, ao ironizar o sofrimento de um pai ao saber que a filha morta havia sido violada por um “cara de 19 anos, aluno do Evandro”.
No vídeo, o ex-PM também cita que a pena “é desse tamanhozinho” (numa acepção de “pequena”) e completa que “vale a pena responder”.
Ex-PM se manifesta sobre o ocorrido
Após a viralização do vídeo, por meio de uma transmissão ao vivo nas redes sociais, Guedes negou ter defendido o cometimento de crime, afirmando que o perfil responsável por divulgar as imagens “não teve a capacidade” de entender que ele atuara como professor de Direito Penal e deu apenas “um exemplo” sobre o crime.
“Defendendo abuso de mulheres? Primeiro que, se ela está morta, ela não é mulher. É um defunto, não é uma pessoa viva. Ela não tem mais personalidade jurídica, porque ela morreu — diz Guedes. — Ele faz as postagens e ele não viu que era uma aula de Direito Penal. “Aí vem uma menina do Pânico”, foi a sequência que eu dei. Isso é uma ficção jurídica, é um exemplo.”
O ex-PM também chamou pessoas de esquerda que o criticaram de “burras”, já que no caso hipotético, não se trata de um crime de estupro, mas sim, de vilipêndio de cadáver.
Fonte: O Globo