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Daleste: Ministério Público crê em descoberta antes do crime prescrever

Segundo o Ministério Público em São Paulo (MP-SP), o décimo aniversário do assassinato de MC Daleste em Campinas (SP), que ocorre nesta sexta-feira (7), pode trazer novas informações sobre quem cometeu o crime e qual foi a motivação.

Embora o inquérito tenha sido arquivado em 2016 sem respostas da polícia, o promotor de Justiça Ricardo Silvares e a advogada da família no caso, Patrícia Vega, acredita que não houve falhas na investigação e acredita que o crime será esclarecido antes da prescrição. Daniel Pedreira Sena Pellegrini, conhecido como MC Daleste, foi morto aos 20 anos durante um show no CDHU San Martin, quando estava em ascensão no estilo musical chamado “funk ostentação”.

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Daleste foi baleado e levado ao Hospital Municipal de Paulínia, mas não sobreviveu aos ferimentos. A prescrição para o crime de homicídio é de 20 anos, o que significa que se o autor do homicídio for descoberto após esse período, ele não poderá ser punido pelo Estado brasileiro. O portal de notícias G1 apresenta nesta semana uma série de reportagens intitulada “Herói da favela e ferida do sistema”. A série contém cinco conteúdos que serão publicados até o dia 7 de julho e incluem entrevistas com o delegado que investigou o caso, pesquisadores, a criadora do principal fã clube e a irmã do músico, além de um retrato do bairro onde ocorreu o homicídio.

“Eu acho que foi um caso bem investigado. Sempre, se nós olharmos para trás, a gente sempre vai encontrar alguma coisa que poderia ter sido feita e não fez [sic]. Sempre vai haver isso. Mas eu acho que dentro dos recursos que a polícia tinha, ela usou de forma bastante aplicada, mas não foi possível [identificar] a autoria”, avaliou Silvares.

À época da morte de Daleste, Linhares atuava pelo MP-SP em Campinas. Atualmente, o promotor trabalha na capital paulista. Em uma entrevista ao G1, o entrevistado registrou as principais teorias investigadas pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) em Campinas e São Paulo no caso em questão. De acordo com ele, a hipótese mais recorrente foi a de um crime passional, com suspeitas de envolvimento de Daleste com uma mulher ligada a um criminoso da região. No entanto, não foram encontradas provas que corroborassem essa versão. Ele enfatizou a importância de não basear como prova apenas boatos ou crenças, afirmando que era necessário encontrar uma conexão mais sólida em relação a um claro mandante.

Em 2014, quando o caso foi transferido da Polícia Civil de Campinas para São Paulo, houve um esforço para aprofundar essa possibilidade e continuar a investigação. O entrevistado mencionou que foi possível ouvir pessoas que não haviam sido ouvidas anteriormente. Um suspeito, que na época estava foragido, foi localizado pelo DHPP em São Paulo.

Embora tenham ocorrido avanços nesses pontos, não foram suficientes para justificar uma acusação formal. Ele afirmou que a mudança do local da investigação em abril de 2014 não prejudicou o andamento do trabalho, apesar da troca de comando na Polícia Civil da região de Campinas. Pelo contrário, essa mudança foi uma tentativa de manter a investigação em andamento.

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Fonte: G1 – Globo

Durante as apurações, foram consideradas hipóteses como rivalidade entre o MC Daleste e outro músico, desentendimentos financeiros com a organização do evento e possíveis envolvimentos de uma organização criminosa, mas nenhum deles foi comprovado. Segundo o promotor, apesar do aumento do uso de redes sociais e do ingresso de novas tecnologias, isso não necessariamente resultaria em uma maior probabilidade de esclarecer o caso. Durante uma apresentação de MC Daleste, que ocorreu em um palco improvisado na carroceria de um caminhão, aproximadamente 5 mil espectadores estavam presentes, conforme inquérito policial.

O promotor acredita que o reavivamento do caso Daleste pode ajudar a evitar a prescrição

O promotor enfatizou a importância de filtrar as informações provenientes das câmeras que filmaram o evento, pois embora várias tenham registrado o ocorrido, nenhuma delas foi útil para descobrir a autoria do crime. Ele acredita que o reavivamento do caso Daleste pode ajudar a evitar a prescrição, porém reconhece que o decorrer do tempo dificulta a busca por respostas sobre o que aconteceu na noite de 6 de julho de 2013. O promotor mencionou que já se passou cerca de dez anos desde o crime e que estão sendo veiculadas reportagens sobre o assunto. Eles têm colaborado e esperam que, com o ressurgimento do caso, alguém possa fornecer informações concretas e úteis para a reabertura das questões. Enquanto não houver prescrição, há sempre a esperança de seguir em frente.

O delegado responsável pelas investigações em Campinas, Rui Pegolo, afirmou ao G1 que a investigação foi abrangente antes do arquivamento do caso, e todas as hipóteses possíveis foram esgotadas. A equipe realizou interceptações, diligências, mandados de busca e oitivas em presídios. No relatório, ele mencionou as dificuldades em encontrar testemunhas que prestassem depoimento, o atraso de 40 minutos na comunicação do caso à Polícia Militar, o que comprometeu a preservação do local do crime, a falta de vestígios detectados, como a arma e projetos, além do fato de o atirador ser considerado “profissional” devido à forma como utilizou a arma e ter planejado o assassinato.

Durante o início das investigações, a advogada Patrícia Vega representou a família de MC Daleste. Embora tenha perdido contato com eles há três anos, ela expressou sua confiança na possibilidade de esclarecimento do caso. Embora esteja indignada com as lacunas que levaram ao arquivamento do caso, a advogada evitou fazer críticas diretas à investigação. Patrícia mencionou que houve uma grande quantidade de denúncias, muitas delas infundadas, o que desviou recursos necessários para assuntos relevantes. Ela destacou que as pessoas tinham medo de falar.

Para Patrícia, a sociedade está desapontada com uma falta de respostas sobre a identidade do assassino de MC Daleste e o motivo do crime. Ela ponderou que o assassinato ocorreu diante de câmeras e de um público presente no show, o que torna ainda mais frustrante o fato de o crime continuar impune. Apesar de não manter contato com a família, Patrícia acredita que eles também nutrem a esperança de que o caso seja esclarecido antes da prescrição do crime.

Fonte: G1

Daniele Kopp

Daniele Kopp é formada em Direito pela Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC) e Pós-graduada em Direito e Processo Penal pela mesma Universidade. Seu interesse e gosto pelo Direito Criminal vem desde o ingresso no curso de Direito. Por essa razão se especializou na área, através da Pós-Graduação e pesquisas na área das condenações pela Corte Interamericana de Direitos Humanos ao Sistema Carcerário Brasileiro, frente aos Direitos Humanos dos condenados. Atua como servidora na Defensoria Pública do RS.

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