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O que aprendi com Ruth Gauer

O que aprendi com Ruth Gauer

Sempre tive em meu coração que devemos homenagear, saudar e reverenciar as pessoas quando estas ainda estão perto da gente e esta coluna de hoje tem por objetivo homenagear uma figura humana fantástica que tive a sorte e o privilégio de conhecer no Programa de Mestrado em Ciências Criminais da PUCRS.

Ela foi minha professora na disciplina História das Ideias: Estado e Soberania. Seu nome é Ruth M. Chittó Gauer e, com todo o respeito do mundo, vocês devem conhecer esta mulher!

A Professora Ruth Gauer mexeu comigo, assim como mexe com todos aqueles que têm o privilégio de ser seus alunos. Ela abre nossas cabeças, nem que seja à “fórceps”, pois ela sabe, com sua vasta experiência de docência, que é para o nosso próprio bem. Muito do que estou escrevendo nestas colunas tem a ver com o que ela despertou em mim, sendo prova do que lhes falei.

Jamais vou esquecer meu primeiro dia de aula com a Professora Ruth, que possui títulos e mais títulos que não fazem jus ao seu saber. Ela é Doutora em História Moderna e Contemporânea pela Universidade de Coimbra; exerce, atualmente, as funções de docência, de pesquisa e de orientação nos Programas de Pós-Graduação em História e em Ciências Criminais da PUCRS; é autora de diversos livros e artigos, mas ouso dizer, dentro da minha humildade e da minha pequenez, que seu maior título é o de ser essa PROFESSORA brilhante que é.

Sempre tive a certeza de que o professor é um instrumento de conhecimento. Ele faz chegar ensinamentos ao seu aluno e os traz à baila do seu jeito. Aí entra o dom, a vocação e a professora Ruth é uma vocacionada quando o assunto é ensinar. Ela mexe com a gente, com nossos sentimentos, nos desafia, é exigente.

A Professora Ruth Gauer é uma jovem senhora, de figura doce, simpática e cordial. Contudo, meus amigos, quando ela entra em sala de aula se transforma em uma leoa, possuidora de uma excelente oratória, presença de espirito, bom humor e, principalmente, muito, mas muito conhecimento.

Eu ficava na sala de aula assistindo-lhe e ouvindo-lhe, só pensando: Se tivesse 1% do conhecimento da Professora Ruth, não perdia um júri. E se a Professora Ruth fosse advogada, tenho pena dos promotores, pois ela tem argumento para tudo!

Em suas aulas ela sempre diz: O conhecimento esta aí nos livros, acessível a todos. Só não aprende quem não quer! Ela me apresentou Pocock, Franco de Sá, Dumont, Mafessoli, Barraclough, Simmel, Baumer, Goffman e tantos outros autores incríveis; confesso que alguns nem sabia que existiam, mas, como a Dona Ruth mexe com a gente, nos obrigamos a ir atrás e conhecê-los na marra e, a partir daí, perceber as maravilhas que estes autores escreveram.

Para entendermos o que acontece hoje em nossa sociedade, devemos conhecer com profundidade o que aconteceu no passado.

Em sala de aula, procurava não fazer muitos questionamentos: queria apenas ouvi-la. Às vezes, trocava olhares com colegas mais xucros como eu e pensávamos: Ela sabe muito meu Deus e eu sou um animal de tão burro.

Lembro de uma de minhas raras intervenções, quando um pássaro bateu nos vidros da nossa sala de aula e fez um tremendo barulho chamando a atenção de todos.

Não perdi a oportunidade e disse: Até os pássaros querem aprender com Ruth Gauer! Toda a turma caiu na gargalhada, inclusive a Professora Ruth. Naquela tarde ganhei meu dia, eis que tirei um sorriso do rosto daquela professora que tanto admirava.

Como método de avaliação, a professora Ruth adota a apresentação de seminários em dupla. Coube a mim e minha colega Patrícia apresentar “Metamorfose do Poder”, de Alexandre Franco de Sá, que tratava da obra do grande e polêmico jurista alemão Carl Schmitt. Estudei como nunca.

Recordo-me que, um dia antes da minha apresentação, estava tão tenso que tive que tomar uma injeção para relaxar a musculatura. Logo eu, habituado a falar em público devido aos júris e sustentações orais que faço nestes mais de dez anos de profissão.

Porém, de nada valeria toda essa experiência porque estava diante da Professora Ruth e a academia não tem nada a ver com o cotidiano da nossa profissão. Contudo, não consigo desligar o advogado do professor; uns dizem que isso é ruim, outros que é bom, mas só sabia que tinha que apresentar aquele trabalho e não tinha choro nem vela.

Chegou o dia da apresentação. Saudei os colegas e a Professora Ruth. Disse que ela era uma monstra: MONSTRA DO SABER! Ela sorriu, assim como toda a turma. Confesso que foi um alívio!

O gelo foi quebrado, o medo de errar foi deixado de lado. Eu e minha colega Patrícia apresentamos o trabalho e tudo transcorreu bem. Levei até flores para a Professora naquela apresentação, tamanho era o carinho e o sentimento de gratidão que já tinha por ela.

Na condição de aluno-presidente dos mestrandos e doutorandos do Programa de Mestrado em Ciências Criminais da PUCRS, tive (e ainda tenho) a oportunidade de acompanhar as reuniões que envolvem o programa, essas conduzidas pela Professora Ruth.

Sou testemunha ocular do esforço que ela faz juntamente com os demais professores da casa no sentido de manter o Programa em nível de Excelência, como tem sido há anos. Sem dúvida, a Pós-Graduação em Ciências Criminais da PUCRS é uma referência para o Brasil inteiro.

Porém, acredito que a maior luta travada pela Professora Ruth seja a de obter bolsas de estudo para que mais alunos possam cursar um mestrado, um doutorado, já que a pós-graduação no Brasil é acessível para poucos. Ela faz o possível (e o impossível) para dar oportunidades a todos.

Esta coluna foi apenas um agradecimento a tudo o que esta Professora fez e faz pela educação. E somente pela educação podemos transformar a vida das pessoas e a história de uma nação. Meu Deus, como eu queria uma Ruth Gauer Ministra da Educação.

Tenho certeza que ela poderia fazer muito pela educação deste país, mas a vida segue e a Professora Ruth esta lá na PUCRS, ensinando e formando continuamente novos docentes.

Registro aqui então minha singela homenagem, a visão de um simples aluno sobre sua mestra, um agradecimento por tudo o que ela operou em minha vida e, com toda certeza, na de todos aqueles que foram seus alunos ou alunos de seus alunos.

O espírito de Ruth é passado de geração em geração, mantendo-se sempre vivo e transformando novas pessoas. Por fim, como já disse o professor Aury Lopes Júnior: O GAUERISMO entra por nossos poros e atinge em cheio os nossos corações! Não há verdade maior.

Muito obrigado, Professora Ruth Gauer.


Imagem do post extraída a partir de entrevista concedida ao Instituto Tolerância.

Jean Severo

Mestre em Ciências Criminais. Professor de Direito. Advogado.

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