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Caso Robinho: em áudio, jogador afirma que daria soco na cara de vítima de estupro

Na noite de 24 de abril de 2014, Robinho e seu amigo Ricardo Falco estavam conversando no carro, em Milão, sobre como responder às acusações de estupro cometido por eles. O jogador expressou indignação, afirmando que a suposta vítima estava equivocada ao pensar que algo havia acontecido entre eles. Ele sugeriu confrontá-la fisicamente para questionar o motivo da acusação.

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No entanto, eles não sabiam que o carro estava sendo grampeado pela polícia. As palavras de Robinho foram registradas nestas escutas e se evidenciaram na denúncia movida pelo Ministério Público italiano contra o jogador e seus cinco amigos.

O UOL teve acesso exclusivo a esses arquivos de áudio por meio do sistema judiciário italiano. São mais de dez horas de áudios que se tornaram as principais provas no processo que resultaram na condenação de Robinho e Falco a nove anos de prisão, por estupro coletivo. A sentença, que corroborou a versão da vítima, foi confirmada em todas as instâncias dos tribunais italianos, sendo a última em 19 de janeiro de 2022, sem possibilidade de recurso.

Pela primeira vez, um veículo de imprensa teve acesso completo aos áudios, concedidos ao UOL com autorização judicial. Essas gravações foram a base da quarta temporada do podcast UOL Esporte Histórias – Os Grampos de Robinho, série lançada hoje, que relata em seis episódios a história da investigação italiana a partir dessas histórias inéditas.

Na época da acusação, Robinho jogava no Milan e negou qualquer envolvimento no caso

Uma mulher albanesa acusou Robinho, Ricardo Falco, Fabio Cassis Galan, Clayton Florêncio dos Santos, Alexsandro da Silva e Rudney Gomes da Silva de tê-la estuprado na madrugada de 22 de janeiro de 2013, na boate Sio Café, enquanto ela comemorava seu 23º aniversário. Na época, Robinho jogava no Milan e negou qualquer envolvimento no caso.

Em janeiro de 2014, os dispositivos de gravação foram ativados, um ano após o crime, e foram desligados em abril do mesmo ano, depois da conversa entre Robinho e Falco mencionada anteriormente. Nas gravações aparecem outras pessoas acusadas e testemunhas presentes na boate de Milão. Mostra também como os seis brasileiros envolvidos no caso mudaram suas versões ao longo de meses.

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Fonte: Metrópoles

Após afirmar que agrediria a jovem albanesa, Robinho inicialmente, conhecido entre amigos como “Neguinho”, admitiu na gravação ter tido relações sexuais com ela. Ele havia negado isso desde o início das investigações. Essa declaração, que foi gravada com autorização judicial, contradiz o que Robinho mesmo disse ao UOL em 2020. Em uma entrevista gravada junto com seus advogados, o jogador afirmou que não teve relação sexual penetrativa com uma mulher que conheceu na boate de Milão e que todo o contato foi consensual.

Robinho e Falco foram condenados por estupro em grupo, porque o tribunal considerou que a vítima estava inconsciente durante o ato sexual. Em outras palavras, ela não estava em condições de dar consentimento ou se defender dos brasileiros. Nas gravações pelo UOL, Robinho admitiu que a mulher estava inconsciente devido ao seu estado de embriaguez. Ele mostra indiferença em relação ao assunto, afirmando que a mulher não tinha noção de quem ele era.

Em outra parte das conversas, Robinho menciona que é necessário investigar quem teve relações sexuais com a mulher e qual era seu estado naquele momento, acrescentando que ela estava muito embriagada. Parte dessas conversas já havia sido divulgada em 2020, quando o tribunal de Milão divulgou a sentença de testemunho dos brasileiros. No entanto, na ocasião, a imprensa teve acesso apenas às transcrições dos ouvidos. As conversas, originalmente em português, foram traduzidas para o italiano para serem utilizadas no julgamento e, posteriormente, traduzidas novamente para o português pela imprensa.

Robinho alegou que suas palavras foram mal traduzidas e retiradas de contexto, em uma entrevista concedida ao UOL naquele ano. Supostos problemas na tradução são a base da defesa de Robinho no processo em andamento no STJ (Superior Tribunal de Justiça). Esse processo trata do pedido da Itália para que o Brasil execute uma pena de Robinho e Falco, ou seja, que cumpram suas penas no país, uma vez que a Constituição brasileira proíbe a extradição de seus cidadãos.

Os advogados de Robinho solicitaram ao tribunal que exigisse da Itália todo o processo traduzido, e não apenas a sentença. No entanto, o STJ rejeitou o pedido, e o caso continua em andamento. Robinho e Falco foram condenados, mas os outros quatro amigos escaparam do julgamento, pois deixaram a Itália logo após o crime.

Fabio Cassis Galan, Clayton Florêncio dos Santos, Alexsandro da Silva e Rudney Gomes da Silva foram acusados, mas nunca foram encontrados pela Justiça, e seus processos não prosseguiram. Atualmente, todos eles vivem no Brasil. O ex-atleta afirma ter testemunhado Rudney e outros homens abusando da mulher. Ele também diz que ninguém vai acusar Robinho e Jairo de terem feito algo com a mulher, mas indica que Claytinho, Rudney e Alex serão responsabilizados.

A reportagem entrou em contato com Robinho, que se aposentou no futebol e desde então vive como distante dos holofotes, para lhe dar a oportunidade de comentar os áudios, porém, o ex-jogador preferiu não conceder entrevista. Falco e os demais acusados ​​também foram contatados, mas não quiseram se pronunciar. Desde 2020, o podcast intitulado “UOL Esporte Histórias” tem levado a assuntos jornalísticos sobre casos notórios relacionados ao mundo esportivo.

Fonte: UOL

Daniele Kopp

Daniele Kopp é formada em Direito pela Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC) e Pós-graduada em Direito e Processo Penal pela mesma Universidade. Seu interesse e gosto pelo Direito Criminal vem desde o ingresso no curso de Direito. Por essa razão se especializou na área, através da Pós-Graduação e pesquisas na área das condenações pela Corte Interamericana de Direitos Humanos ao Sistema Carcerário Brasileiro, frente aos Direitos Humanos dos condenados. Atua como servidora na Defensoria Pública do RS.

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