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Estupro é crime cujas feridas podem durar a vida toda

O médico e especialista Drauzio Varella contou sobre a sua experiência atuando na Penitenciária Feminina de São Paulo e na enfermaria do Carandiru. Ele relata sobre a assustadora quantidade de mulheres vítimas do crime de estupro, bem como as torturas que sofrem os estupradores dentro da cadeia.

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Mulheres vítimas de estupro carregam traumas por toda a vida, aponta estudos

A visão do especialista quanto ao crime de estupro

O médico conta que trabalhou durante 14 anos na Penitenciária Feminina de São Paulo, e ouviu diversas histórias de prisioneiras que foram estupradas ainda na infância, por padrastos, pais, avôs, tios e amigos da família.

“Nunca imaginei que violência sexual contra crianças, fosse tão frequente em todas as classes sociais, especialmente entre as meninas mais pobres e desprotegidas.”

O especialista relata que viveu 33 anos trabalhando em penitenciárias, e que pode constatar que as maiores atrocidades cometidas são contra estupradores. Ele relata ainda uma conversa que teve com um dos detentos do Carandiru:

“Uma vez perguntei a um preso por que razão matavam estupradores, enquanto respeitavam assassinos de mães e pais de família: O senhor vai pro motel com uma mulher que está a fim do senhor, põe uma música romântica, toma um uísque e, às vezes, não dá certo. Como esses caras conseguem ter ereção com uma mulher se debatendo, gritando e pedindo pelo amor de Deus? Eles não são como a gente, doutor, são tarados, vão fazer outra vez. Pode ser com uma irmã nossa ou nossa mãe”.

Segundos os dados colhidos pela revista Pesquisa, da Fapesp, na matéria  “Danos Ocultos do Estupro”, no ano de 2021 foram registrados pouco mais de 56 mil casos de estupro no Brasil. Três em cada quatro vítimas eram crianças e adolescentes com menos de 14 anos. No entanto, a pesquisa também apontou que cerca de apenas um em cada dez casos chega ao conhecimento das autoridades.

O estudo avaliou também o uso de medicação antidepressiva e da psicoterapia em 86 mulheres e 31 adolescentes que foram violentadas. O resultado foi:

1) No estresse pós-traumático que se instalou como consequência da violência sexual, cerca de 96% das pacientes desenvolveram quadros de depressão.

2) As participantes apresentaram uma resposta incomum nos níveis de dois hormônios associados ao estresse: ACTH (produzido pela glândula pineal, no cérebro) e cortisol (produzido pelas adrenais).

3) Níveis altos de cortisol mantidos por períodos prolongados provocam a liberação de moléculas características de processos inflamatórios em diversos órgãos, inclusive no cérebro. Processos inflamatórios crônicos estão ligados a problemas de saúde física e mental.

4) Muitas das mulheres violentadas apresentaram o fenômeno da revivescência, caracterizado por lembranças e pensamentos invasivos que as fazem reviver a experiência traumática e a ter pesadelos que interferem com a arquitetura do sono.

5) A polissonografia foi realizada em dois momentos: quando a paciente era incluída no estudo e um ano depois. Aquelas que tiveram distúrbios do sono por mais tempo continuaram a apresentar os sintomas do transtorno pós-traumático por períodos mais longos.

Fonte: Folha

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