Caso Marielle: 5 anos após homicídio da vereadora, crime continua sem solução
Passaram-se cinco anos desde o assassinato da vereadora Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes, e até o momento, os autores do crime ainda não foram julgados, nem mesmo em primeira instância, e não há certeza sobre a existência de um mandante.
Recentemente, novos promotores começaram a trabalhar no caso para tentar desvendá-lo. O ex-PM Ronnie Lessa, acusado de ser responsável pelos disparos que mataram a vereadora Marielle e Anderson, foi expulso da PM apenas neste ano devido a uma condenação por comércio ilegal de armas.
Durante o cumprimento de mandado de prisão pelo homicídio da vereadora Marielle, foram encontradas na casa de um amigo de Lessa 117 peças para montagem de fuzis. Já Élcio Queiroz, outro ex-PM envolvido no caso, permanece preso por dirigir o veículo no qual Lessa disparou contra as vítimas.
Estratégias da defesa atrasam julgamento do caso da vereadora Marielle
A demora no julgamento deve-se às estratégias da defesa, que apresentou sucessivos recursos para impedir o júri popular. Em setembro, o juiz responsável pelo caso atribuiu a demora na conclusão do processo a essas estratégias.
A demora na prestação jurisdicional do caso foi causada pelos sucessivos recursos interpostos pela defesa após a decisão de pronúncia. Essa demora não foi causada pela lentidão do sistema judicial. Embora a pronúncia já tenha sido examinada pelos tribunais superiores, ambas as partes, inclusive a defesa, solicitaram diligências, prolongando ainda mais o processo.
As provas coletadas no caso da vereadora Marielle não apenas afetaram os suspeitos do crime, mas também levaram a operações contra milicianos em Rio das Pedras. Isso enfraqueceu o grupo criminoso, permitindo que traficantes do Comando Vermelho tentassem dominar a região. Um conflito pelo território vem ocorrendo há meses na zona oeste.
As investigações contra a milícia de Rio das Pedras também revelaram evidências relacionadas ao escândalo das “rachadinhas” envolvendo o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). Durante a Operação Intocáveis, foram encontradas mensagens de Danielle Mendonça, ex-mulher do ex-PM Adriano da Nóbrega, conversando com Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio, sobre o uso de um “funcionário fantasma” no gabinete.
Durante a investigação da lavagem de dinheiro de Adriano, a viúva de Adriano, Julia Lotufo, foi pega em uma escuta telefônica falando sobre um “funcionário fantasma” no gabinete de Flávio. Essas evidências podem ser usadas para reabrir a investigação contra Flávio após a anulação de grande parte das provas do caso pelo STJ e STF.
Enquanto isso, as investigações continuam com a adição de sete novos membros da força-tarefa e a colaboração da Polícia Federal. O bicheiro Rogério Andrade também se tornou um novo suspeito devido à sua ligação com o coordenador da força-tarefa, Ronnie Lessa.
O MP-RJ está trabalhando para esclarecer o caso, enquanto enfrenta trocas de comando e crises internas. Outras investigações sugerem que o ex-vereador Cristiano Girão e o ex-deputado Domingos Brazão, que atualmente está afastado do TCE (Tribunal de Contas do Estado), podem estar envolvidos no crime, mas todos os três negam as acusações.
Brazão também enfrentou uma denúncia por tentar obstruir a investigação do crime, mas a denúncia foi encaminhada para o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro devido ao seu foro especial como conselheiro.
As promotoras que lideraram o caso não descartaram a possibilidade de que o crime possa ter sido cometido sem um mandante e que tenha sido motivado pelo ódio de Lessa com a ajuda de Élcio.
Além disso, investigadores examinaram uma possível conexão entre o crime e uma briga entre um ex-assessor da vereadora Marielle e o vereador Carlos Bolsonaro em 2017, mas não encontraram nenhuma ligação com o assassinato.
Fonte: Folha de São Paulo